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      Florestan Fernandes Jr

      Florestan Fernandes Júnior é jornalista, escritor e Diretor de Redação do Brasil 247

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      Trump e o golpe com o capitão Brancaleone

      O tarifaço de Trump é apenas o ensaio. O golpe em curso é real. E, desta vez, não haverá desculpa para quem se calar

      Presidente dos EUA, Donald Trump (Foto: Reuters)

      No Painel do Boa Noite 247 da última quarta-feira (23/07), alertei, em meu comentário inicial, que a crise provocada pelo “tarifaço” de Trump escondia, de certa forma, uma ameaça mais profunda que paira sobre o Brasil. Quem me chamou atenção para isso foi o amigo Fernando Fernandes. Em uma conversa recente, ele lembrou diversas ações articuladas pelo Pentágono para interferir na soberania dos países da América Latina.

      Nos anos 1960, os governos dos Estados Unidos, por meio de suas agências de inteligência tiveram papel direto na destruição das democracias e na implantação de ditaduras militares na região. 

      Foi assim no Brasil, Chile, Argentina, Uruguai, Paraguai, Peru e Bolívia. Durante todo o período de redemocratização, os serviços de espionagem e inteligência da Casa Branca seguiram ativos, atuando para criar instabilidades nos governos progressistas latino-americanos.

      Não se trata de teoria da conspiração, mas de fatos comprováveis, fáceis de localizar no retrovisor da história. Em 2007, por exemplo, a Petrobras descobriu os campos gigantescos de petróleo do pré-sal. Dois anos depois, o WikiLeaks passou a divulgar informações “vazadas” de governos e empresas sobre assuntos estratégicos de interesse público.

      Um desses documentos cita o nome do ex-juiz Sérgio Moro como participante de uma conferência promovida pelo programa Bridges Project (“Projeto Pontes”), vinculado ao Departamento de Estado dos EUA, cujo objetivo era “consolidar o treinamento bilateral (entre Estados Unidos e Brasil) para aplicação da lei”.

      Em 2013, o ex-consultor da CIA Edward Snowden revelou que a agência espionava, além da presidenta Dilma Rousseff, também a Petrobras. No mesmo ano, tem início a Operação Lava Jato. Em março de 2014, é deflagrada a primeira fase ofensiva da operação que culminaria na prisão do presidente Lula e ao  impeachment da presidenta Dilma.

      Atualmente, agentes da Agência Brasileira de Inteligência (Abin) estão em alerta diante de indícios de que ações recentes do bolsonarismo não são apenas iniciativas isoladas de grupos extremistas nacionais, mas parte de um plano articulado com apoio direto do governo dos Estados Unidos. Segundo o jornalista Jamil Chade, do Vero Notícias, cresce dentro da inteligência brasileira a convicção de que a estratégia para desestabilizar o governo do presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) conta com envolvimento da CIA e o aval da Casa Branca.

      O mesmo Jamil Chade alerta que estaria em curso uma nova ofensiva da CIA, agora em aliança com Bolsonaro, para uma segunda tentativa de golpe contra Lula. E o sinal mais evidente dessa articulação seria justamente o “tarifaço” imposto ao Brasil por Trump.

      Um agente da Abin lotado no exterior declarou a Chade: “Trata-se de um típico roteiro elaborado pela CIA, alimentando atores nacionais para justificar um interesse estratégico estrangeiro.”

      O radicalismo de Eduardo Bolsonaro e de seu aliado Paulo Figueiredo, neto do último general-presidente da ditadura, revela que já está em andamento a construção de uma narrativa em defesa da “liberdade contra o sistema” e a martirização de Bolsonaro como peça central para viabilizar a implantação de um Estado autocrático no Brasil.

      Em editorial recente, o jornal O Estado de S. Paulo, o mesmo que apoiou o golpe de 1964, pede que o Brasil abandone o BRICS, numa clara demonstração de subserviência aos interesses de Washington.

      Basta a crise do tarifaço escalar um pouco mais para que seus aliados na mídia corporativa passem a endossar os planos do “império decadente”.

      Mais do que solidariedade, o Brasil precisa, agora, de ações concretas dos países-membros do BRICS, especialmente na área econômica, para absorver parte significativas das exportações brasileiras que poderão encalhar com o boicote imposto por Trump.

      Ou os BRICS agem como um bloco estratégico e soberano, ou se transformarão em peões do jogo geopolítico dos Estados Unidos. O tarifaço de Trump é apenas o ensaio. O golpe em curso é real. E, desta vez, não haverá desculpa para quem se calar.

      * Este é um artigo de opinião, de responsabilidade do autor, e não reflete a opinião do Brasil 247.

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