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Gustavo Tapioca

Jornalista formado pela Universidade Federal da Bahia e MA pela Universidade de Wisconsin-Madison. Ex-diretor de redação do Jornal da Bahia, foi assessor de Comunicação Social da Telebrás, consultor em Comunicação do Fundo das Nações Unidas para a Infância (Unicef) e do (IICA/OEA). Autor de "Meninos do Rio Vermelho", publicado pela Fundação Casa de Jorge Amado.

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Palavras que disfarçam o golpe continuado

Não são episódios isolados. São capítulos da mesma narrativa: o golpe continuado

Plenário da Câmara dos Deputados (Foto: Kayo Magalhães/Câmara dos Deputados)

As manchetes da mídia e das redes repetem termos que se tornaram parte de um vocabulário político carregado de cinismo: blindagem, dosimetria, pacificação, anistia. Até Michel Temer, o constitucionalista que articulou o golpe de 2016, foi “convocado” para aconselhar sobre a necessidade de pacificar o país.

No Congresso, fala-se em anistiar golpistas condenados. No campo da extrema-direita, Eduardo Bolsonaro surge como uma espécie de “Guaidó brasileiro”, preparado por Trump para sabotar a democracia se Lula for reeleito.

Não são episódios isolados. São capítulos da mesma narrativa: o golpe continuado. Aquele que não acabou com a condenação de Jair Bolsonaro e de seus generais, tampouco com as penas impostas pelo Supremo Tribunal Federal aos executores do 8 de janeiro de 2023. O golpe segue como método político.

Blindagem e dosimetria: manobras no Congresso

A aprovação da PEC da Blindagem pela Câmara dos Deputados transformou-se no mais recente salvo-conduto para parlamentares. Se confirmada no Senado, criará uma barreira contra investigações e colocará deputados e senadores acima da lei.

No mesmo movimento, discute-se a dosimetria das penas aplicadas aos golpistas. O termo jurídico virou palavra mágica, usada para reduzir sentenças exemplares impostas pelo STF a quem atentou contra a democracia. É a tentativa de reescrever a gravidade dos crimes e suavizar o castigo merecido.

A farsa da pacificação

A palavra pacificação voltou à cena como justificativa para tudo: da anistia a golpistas, à convivência cúmplice com quem ameaça o Estado de Direito. A mídia liberal e setores do Centrão apresentam a “pacificação” como saída nobre, quando na verdade significa apenas acomodação de criminosos dentro do sistema político.

Não por acaso, Michel Temer ressurgiu como “árbitro” chamado a aconselhar o país. O mesmo Temer que patrocinou o golpe contra Dilma Rousseff agora se apresenta como mediador dos polos políticos, em mais uma encenação que serve à elite que nunca aceitou a decisão do voto popular quando seu candidato é derrotado.

É a campanha, estúpido! 

Esses movimentos não têm como objetivo apenas livrar os golpistas da prisão. O alvo principal é desgastar ao máximo o governo do presidente Lula até 2026. O medo é real: as pesquisas divulgadas ontem mostram que, se a eleição fosse hoje, Lula venceria já no primeiro turno. É a campanha, estúpido!

Isso apavora a direita radical, órfã de Bolsonaro, e também a direita liberal, que segue sem candidato competitivo — depois do recuo de Tarcísio de Freitas — e continua procurando um nome viável.

Entre blindagens, anistias e discursos de pacificação, o que se esconde é a tentativa de manter vivo o projeto de poder da extrema-direita — mesmo depois da condenação histórica da organização criminosa liderada por Jair Bolsonaro.

Já circula a hipótese de que Donald Trump prepara Eduardo Bolsonaro para atuar como uma espécie de “presidente paralelo”, pronto para contestar os resultados eleitorais de 2026 e desestabilizar o país caso Lula seja reeleito. Ou não. Não se trata de metáfora. O “03” da família Bolsonaro já ganhou até outro sobrenome: Eduardo Guaidó.

 

* Este é um artigo de opinião, de responsabilidade do autor, e não reflete a opinião do Brasil 247.

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