Nem o presidente Lula, tampouco o ministro da Defesa, José Múcio, assistirão ao julgamento na terça-feira
Por motivos distintos, ambos preferem ficar distantes do julgamento
Na próxima terça-feira, quando as câmeras que transmitirão a sessão do Supremo Tribunal Federal (STF) forem abertas às 9h para o início do histórico julgamento do “Núcleo 1” — ou seja, dos apontados como comandantes da tentativa de golpe de Estado no Brasil, um conjunto de oito réus —, duas figuras de importância da política brasileira estarão cuidando de seus afazeres. Nomes que, de toda forma, estão ligados aos acontecimentos que antecederam o golpe: o presidente Luiz Inácio Lula da Silva e o ministro da Defesa, José Múcio. Ao contrário de grande parte dos brasileiros, eles não estarão diante da TV, atentos ao desenrolar dos fatos que dizem respeito a todos nós. Por motivos distintos, ambos preferem ficar distantes do julgamento.
O 247 tentou saber se o comandante do Exército, Tomás Ribeiro Paiva, vai acompanhar o julgamento no qual estarão sete oficiais da reserva e um da ativa, mas, embora a assessoria indicasse que a solicitação deveria ser encaminhada por e-mail, obtivemos, até o fechamento deste texto, às 18h04, apenas a acusação do recebimento oficial da solicitação, com a promessa de uma resposta mais objetiva, encaminhada pelo subchefe do comandante.
A sessão no STF será de responsabilidade da Primeira Turma, cujo colegiado é composto por dois dos mais antigos ministros em atividade na Corte, Cármen Lúcia e Luiz Fux, e dois dos mais recentes, Cristiano Zanin e Flávio Dino. Completa o grupo o relator do caso, Alexandre de Moraes.
Lá fora, no entorno do prédio, o controle será máximo, conforme já noticiado pelo O Globo e, aqui, pelo 247. Drones com imagem térmica para monitoramento contínuo da Praça dos Três Poderes, abordagens policiais, revista de mochilas e o uso de cães farejadores são medidas preventivas de segurança adotadas.
Enquanto isso, em seu gabinete, o presidente Lula terá despachos normais, segundo o que reportou sua assessoria de Comunicação e foi confirmado pelo próprio presidente. Em longa entrevista à Rádio Itatiaia (MG), quando esteve nesta sexta-feira cumprindo agenda em Contagem, na região metropolitana de Belo Horizonte, perguntado se iria assistir ao julgamento, respondeu de pronto: “Não. Tenho coisa melhor para fazer.”
Da mesma maneira, o ministro da Defesa, José Múcio, também não acompanhará o fato histórico. Nesse dia, está previsto que Múcio receba o ministro do Esporte, André Fufuca, em seu gabinete e despache com o cerimonial da pasta sobre os preparativos da cerimônia comemorativa do 7 de Setembro. “Dia normal”, descreveu um de seus assessores.
De acordo com a Secretaria de Segurança Pública do Distrito Federal, o policiamento no entorno do STF será reforçado, com atenção às vias de acesso (S1 e S2), e se estenderá até o 7 de Setembro, quando a Esplanada dos Ministérios será interditada a partir das 17h do dia 6. O acesso ao público no desfile só será permitido mediante revista. Estarão proibidos itens como armas, objetos cortantes, mochilas grandes, fogos de artifício e drones não autorizados.
O ministro José Múcio, no pós-golpe de 8 de janeiro, chegou a tentar minimizar aqueles acontecimentos, dizendo que não foi golpe, apenas algumas senhoras se reuniam para rezar nos acampamentos, onde havia, inclusive, parentes seus.
Ao mesmo tempo, desejou que tudo passasse logo e fosse apurado, para que pudéssemos “esquecer” o ocorrido. Em maio, quando os trabalhos de apuração avançaram na direção dos militares que, por fim, viraram réus, ele afirmou: “Eu, olha, eu fico contente que isso esteja acontecendo, porque, para as Forças Armadas, nós precisamos que isso se conclua. Essa nuvem de suspeição atinge muitas pessoas inocentes e as pessoas precisam saber verdadeiramente quem são os culpados para que eles sejam punidos, para que os inocentes retomem a sua vida de forma normal. Esse dia 8 precisa ser esquecido na nossa lembrança e o dia que eu mais desejo é o dia que tudo isso terminar e os culpados, que eles sejam punidos.”
Estamos a poucos passos do fim. A espera foi longa, e o desfecho ansiado por todos é que a Justiça se cumpra, enfim. Porém, o ministro José Múcio se equivoca quando diz que esse é um episódio a ser “esquecido”. Eventos marcantes como esse, que ameaçaram a nossa democracia e deixaram o país a um triz de se deparar de novo com um regime autoritário, são para ser lembrados pelo resto de nossas vidas. Para que não se repitam.
* Este é um artigo de opinião, de responsabilidade do autor, e não reflete a opinião do Brasil 247.