Disputa entre Estados Unidos e China é uma disputa entre capitalismo e socialismo no mundo
"À medida que a China continua a crescer, o caminho do desenvolvimento socialista atrai mais atenção como uma alternativa viável", aponta Fernando Marcelino
A disputa geopolítica entre Estados Unidos e China representa o conflito entre capitalismo neoliberal em crise e a ascensão do socialismo como modo de produção abrangente, mais dinâmico e próspero que o capitalismo. Trata-se, de fundo, de uma disputa entre “modos de produção” que entram em choque. De um lado, a ditadura do capital em sua fase decadente. De outro, a ditadura do proletariado, na sua melhor forma histórica até hoje.
Os Estados Unidos são um país capitalista que protege consistentemente os interesses de uma classe capitalista superior minoritária. Após quase quatro décadas de neoliberalismo, enfrenta uma crise do gasto público, na medida em que a busca por mais reformas estruturais para estimular o capital privado entra em conflito direto com a necessidade de manter os níveis mínimos de bem-estar social. Experimenta assim um período de estagnação e declínio prolongados, desemprego generalizado, desigualdades de renda abissais, crise urbana, aumento da violência, dívidas excessivas e bolhas de ativos.
Apesar da propaganda negativa, a China vem provendo a “maior transformação econômica dos últimos 250 anos” da história mundial, com relativo sucesso a melhora das condições de vida da população. A novidade deste modo de produção emergente é sua capacidade de contribuir para o desenvolvimento das forças produtivas e se subordinar a um processo de constante redistribuição de renda, de presença da sociedade e do Estado na economia através de empresas de propriedade cooperativa, pública, estatal e mista. Para se liberar as forças produtivas, se flexibilizou o controle dos meios de produção de setores não-estratégicos, favorecendo a formação de empresas privadas e cooperativas. O crescimento do setor privado se deu em conjunto com o aumento da competitividade das estatais e cooperativas. O gasto público cresceu significativamente com as empresas estatais sendo a espinha dorsal da economia, mantendo controle dos principais meios de produção que atuam no mercado sozinhas e em grupos e servem de base do planejamento macro-econômico, capaz de dirigir e regular o mercado. Os chineses abriram sua economia de forma calculada e gradual, apresentando como atração o baixo custo relativo de mão-de-obra, a boa infra-estrutura de energia, transporte e comunicação, orientação no processo de investimentos e a estabilidade social e política. Aproveitando o capital externo para criar e adensar suas cadeias produtivas, condicionaram os investimentos à associação com empresas chinesas, a transferência de novas e altas tecnologias e a participação no comércio internacional. Criaram um sistema monetário soberano. Modernizaram as estatais e descentralizaram o planejamento. Mantém uma política ativa de distribuição de renda por meio de aumentos constantes de salários, aposentadorias e serviços públicos. E assim vem superando a dependência do capital monopolista.
Além disso, quem governa o Estado é o Partido Comunista da China, com um sistema organizacional e disciplina rígidos de seus 80 milhões de membros, cobrindo todos os departamentos e campos e alcançando o nível de base. Ao contrário dos partidos ocidentais que são relativamente frouxos, sem base de mobilização popular real, com divisão de poderes e governos, muitas vezes em conflito permanente, o Partido Comunista da China é capaz de unificar pensamentos e ações, com forte capilaridade social e capacidade organizacional, alta eficiência no planejamento e execução, podendo realizar tarefas importantes e responder efetivamente aos principais desafios nacionais. Ele absorve grande maioria dos membros proeminentes da sociedade chinesa para se tornarem membros do partido, mas também tem talentos notáveis de todas as esferas da vida, o que é incomparável a qualquer outra organização política.
No Leviatã Socialista da China, é propriedade do Estado: os solos urbano e rural, os principais instrumentos de desenvolvimento econômico (estatais em setores estratégicos, política industrial, juro, crédito, câmbio e sistema financeiro). As áreas onde as estatais devem atuar são discriminadas. As atividades econômicas que concernem à soberania e à segurança do Estado, os setores com fortes graus de monopólio e com efeitos notáveis no bem estar público, as indústrias básicas, as indústrias de exploração de recursos nacionais, as indústrias de processamento, os ramos de produção em estado incipiente e as atividades que têm forte incidência na economia nacional e nas condições de vida da população, devem ser firmemente controladas pelo Estado. O capitalismo nunca manteve uma posição dominante de longo prazo na China. O planejamento estatal desempenha um papel crucial na economia chinesa, coexistindo com mecanismos de mercado. O governo chinês utiliza o planejamento como ferramenta para direcionar o desenvolvimento econômico e social, definir metas e prioridades, e implementar políticas que visam o crescimento e o desenvolvimento. Ao contrário dos países ocidentais, o Estado chinês dispõe de recursos e de capacidade administrativa para mobilizar rapidamente uma ação coletiva a serviço dos objetivos da nação.
O sucesso econômico capitaneado pela China já se traduziu em profundos impactos para as economias ocidentais, que se veem obrigadas a reformular rapidamente suas estruturas produtivas e a empreender amplas reformas institucionais para ampliar sua competitividade e conservar sua posição nas cadeias globais de valor. Para os EUA, a China passou a ter os elementos que a caracterizam como um estado desafiador do status quo. Com isso, os EUA serão impelidos a barrar o avanço chinês no continente asiático, minando a possibilidade da China tornar-se uma hegemonia regional. Enquanto isso, a China enfraquece as vantagens financeiras que sustentam a hegemonia dos EUA e avança nos altos escalões da "quarta revolução industrial", da inteligência artificial à computação quântica, com os Estados Unidos decaindo para uma "versão desindustrializada e anglófona de uma república latino-americana, especializada em commodities, imóveis, turismo e talvez evasão fiscal transnacional".
O socialismo é um processo histórico concreto. Para o socialismo substituir o capitalismo é preciso passar por um desenvolvimento histórico de longo prazo. Embora a ascensão global do socialismo ainda esteja em seus estágios iniciais, já provoca impactos significativos e atrai a atenção de todo o mundo, oferecendo novas opções para países subordinados ao império do capital. À medida que a China continua a crescer e assume uma posição de liderança como potência global, o caminho do desenvolvimento socialista deve atrair mais atenção como uma alternativa viável, tanto de modo de produção como de estilo de vida, promovendo a formação de um novo sistema socialista global que seja cada vez mais implantado ao redor do mundo.
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