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José Reinaldo Carvalho

Jornalista, editor internacional do Brasil 247 e da página Resistência: http://www.resistencia.cc

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China e BRICS na vanguarda do novo mundo multipolar

O multilateralismo, o desenvolvimento compartilhado e a paz são marcas da diplomacia chinesa como alternativa ao hegemonismo, afirma José Reinaldo Carvalho

Xi Jinping (Foto: Xinhua)

Por José Reinaldo Carvalho - Num mundo assolado por conflitos, desigualdades e crescentes ameaças à paz, um país poderoso se ergue com uma proposta alternativa, ousada e solidamente ancorada em princípios de cooperação e justiça internacional: a China. Sob a liderança lúcida e firme de Xi Jinping, o país socialista asiático tem apresentado um conjunto de propostas políticas e diplomáticas que vão muito além da retórica. São iniciativas que visam a transformar, de forma estrutural, a governança global e as relações internacionais, priorizando o desenvolvimento, a paz duradoura e o encontro de civilizações.

Essa visão foi reafirmada com vigor na última reunião de chanceleres do BRICS, realizada no Rio de Janeiro nos últimos dias 28 e 29. O ministro das Relações Exteriores da China, Wang Yi, foi direto ao ponto: “Os países do BRICS devem permanecer firmes em seus princípios e servir como a principal força na salvaguarda da justiça e da equidade”. Suas palavras, longe de mera formalidade diplomática, têm sentido prático e ecoam a essência da política externa chinesa contemporânea.

Não por acaso, Xi Jinping tem promovido três grandes plataformas multilaterais nos últimos anos: a Iniciativa de Desenvolvimento Global (IDG), a Iniciativa de Segurança Global (ISG) e a Iniciativa de Civilização Global (ICG). Elas constituem, em conjunto, um arcabouço consistente e coerente para a edificação de uma nova ordem mundial — multipolar, pacífica e centrada nos interesses comuns dos povos.

A IDG, lançada na Assembleia Geral da ONU em 2021, foi apresentada com clareza: “O desenvolvimento é a chave mestra para resolver todos os problemas”, afirmou Xi, sem rodeios. Em contraste com o modelo neoliberal ocidental, que gera concentração de riqueza e instabilidade social, a proposta chinesa valoriza a cooperação Sul-Sul, a soberania nacional e o combate à pobreza. Investimento em infraestrutura, agricultura sustentável e acesso à energia são metas concretas, não promessas vazias.

Já a Iniciativa de Segurança Global, discutida no Fórum de Boao em 2022, responde diretamente às práticas militaristas e intervencionistas dos EUA e da Otan. Xi foi enfático: “Devemos rejeitar a mentalidade de blocos e construir um mundo de paz duradoura”. Aqui, a proposta não é reequilibrar o poder bélico, mas sim alterar a lógica da segurança: não mais baseada no confronto, mas na confiança mútua e na indivisibilidade da segurança entre as nações. Não o excepcionalismo, a segurança de um em detrimento dos demais, mas a segurança de todos.

A terceira iniciativa, talvez a mais inovadora em tempos de arrogância cultural e guerras ideológicas, é a de Civilização Global. Numa era marcada por discursos de supremacismo e tentativas de imposição de valores ocidentais como universais, a China propõe algo mais nobre: o diálogo entre culturas, o respeito às particularidades de cada povo, o encontro de civilizações e a valorização da diversidade como motor do progresso humano. Xi afirmou com clareza: “A diversidade das civilizações é uma força motriz para o progresso da humanidade”.

Essas três iniciativas convergem para um objetivo estratégico central: a construção de uma “comunidade de futuro compartilhado para a humanidade”. Não se trata de um jargão, mas de uma diretriz concreta da política externa chinesa, cuja aplicação pode ser observada em projetos como a Iniciativa do Cinturão e Rota (BRI). Diferente das antigas práticas coloniais disfarçadas de “ajuda humanitária” por parte do Ocidente, a BRI oferece investimentos em infraestrutura, transferência tecnológica e acesso a mercados, sempre com respeito à autonomia dos países envolvidos.

No encontro do BRICS no Rio, Wang Yi reforçou que esse modelo deve ser expandido. O chanceler chinês defendeu o fortalecimento das Nações Unidas e o papel central de um multilateralismo baseado em consultas amplas, contribuição conjunta e benefícios compartilhados. “Os membros do BRICS devem manter suas portas abertas e estender a mão acolhedora para ajudar os países parceiros a se integrarem profundamente ao bloco”, declarou.

A mensagem é inequívoca: o BRICS, liderado por países emergentes e diversos em sua constituição política e cultural, pode e deve ser o catalisador de uma nova ordem global. E a China, por sua dimensão e trajetória, tem assumido com responsabilidade essa tarefa histórica.

Wang Yi também reiterou o apoio do BRICS às soluções pacíficas para crises como a da Ucrânia, ressaltando a importância da diplomacia em vez das sanções e da escalada armada. Sobre a Palestina, reafirmou o princípio de “os palestinos governando a Palestina”, sinalizando que o BRICS não se submeterá às pressões unilaterais impostas por Washington ou Tel Aviv.

Essa postura ganha ainda mais relevância quando contrastada com a política exterior dos EUA sob o presidente Donald Trump, que incentiva a fragmentação de acordos multilaterais, desencadeia guerras comerciais e pressiona os países, incluindo os aliados tradicionais dos EUA, com chantagens geopolíticas.

A China, ao contrário, recusa esse modelo. Não impõe mudanças de regime, não espalha bases militares, não recorre a sanções unilaterais como instrumentos de pressão. Sua política externa está fundamentada na coexistência pacífica, no respeito mútuo e na cooperação.

No mundo de hoje, onde os EUA mantêm o militarismo e se empenham pela primazia dos seus interesses em detrimento dos demais países, seguem promovendo bloqueios econômicos, guerras comerciais e ataques à soberania alheia - como na Venezuela, Cuba, Irã e em tantos outros países - é preciso ter coragem para dizer: há, sim, uma alternativa. Essa alternativa se chama multipolaridade, e ela está sendo construída com firmeza e coerência pela China e seus parceiros.

A par do enfrentamento dos próprios desafios da modernização socialista, da permanente construção do socialismo com peculiaridades chinesas na nova era, no plano internacional a conduta chinesa se baseia nos princípios da promoção da paz, do desenvolvimento, do multilateralismo e da cooperação.

Portanto, ao analisar o cenário internacional, é necessário reconhecer: a China não está apenas se projetando como potência pacífica. Ela está moldando uma nova arquitetura mundial. E o BRICS, com sua diversidade e potencial transformador, é a plataforma mais promissora para isso.

A América Latina, e o Brasil em particular, devem estar atentos. O que se debate hoje entre chanceleres em fóruns como o do BRICS não é um jogo diplomático periférico. É a disputa pelo futuro. E nele, ou escolhemos a submissão ao velho imperialismo em declínio ou nos somamos à construção de uma ordem multipolar, justa e inclusiva.

* Este é um artigo de opinião, de responsabilidade do autor, e não reflete a opinião do Brasil 247.

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