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Dom Orvandil

Bispo Primaz da Igreja Católica Anglicana, Editor e apresentador do Site e do Canal Cartas Proféticas

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Carta aberta a Alysson Mascaro

Ao levantar-se indignado, o senhor faz muito bem ao povo brasileiro, à classe trabalhadora e à revolução socialista

Alysson Mascaro (Foto: Nicolas Iwashita)

Carta aberta a Alysson Mascaro

Prezadíssimo companheiro Prof. Dr. Alysson Mascaro,
Dom Orvandil, Bispo da Igreja Anglicana do Brasil e editor do canal TV CP 12 no YouTube.

Introdutoriamente, minha forte vontade é a de agradecer ao jornalista Leonardo Attuch por sua ousadia em dispor de 3h30m de seu veículo e por sua solidariedade ao senhor, buscando, lá no fundo de seu sofrimento, o depoimento tão aguardado. Senti-me vasta e profundamente contemplado e aliviado.
Também lhe agradeço por mencionar o meu nome ao lado de grandes personalidades do mundo acadêmico, religioso, da literatura e da revolução.

Na mensagem em sua solidariedade, postada nas redes sociais e nas entrevistas no meu canal com pessoas ilibadas de sua convivência, que repercutiram de modo grandioso, sem surpresa para mim, por saber de seu valor para o povo brasileiro e graças ao seu prestígio como militante e intelectual de envergadura.

Fiz o que outras pessoas fizeram. Fiz o que a USP deveria fazer e não se dobrar ao fascismo golpista e genocida de reputações e das vidas dos pobres, dos favelados, dos negros e dos trabalhadores. Fiz o que amplos segmentos de esquerda falharam em não realizá-lo, mergulhando no inferno da anticiência e da negação do direito de o companheiro ser ouvido e amparado. Fiz o que o Congresso Nacional, em sua maioria ocupada com o orçamento secreto, com a anistia aos facínoras fascistas e com o capitalismo em frangalhos, que precisa de empurrões mais arrojados para ser expulso de nós como causa do câncer da injustiça econômica e social.

Assisti às três horas e meia da bela entrevista puxada pelo jornalista Leonardo Attuch. Vi nela um profissional diferenciado daqueles papagaios de pirata da mídia do mercado, que não o entrevistaram: solidário, afetivo nos gestos e até nas lágrimas de quem o reconhece como nosso grande irmão e patriota.

Obrigado, Leonardo Attuch, pelo presente da Páscoa revolucionária!

Destaco alguns pontos que me tocaram profundamente:

1. A coragem de expor publicamente a via-crúcis e o calvário que não o mataram

Sinceramente, meu caro e valoroso companheiro Prof. Mascaro, a verdade profunda e rotineiramente trabalhada pelo filósofo comprometido com os fundamentos da racionalidade e com a compaixão era de seu dever servi-la ao povo brasileiro e, sobretudo, à sua nobreza classista, os trabalhadores e as trabalhadoras.

O seu silêncio por esses longos meses — para mim como se fossem anos — foi um direito da recomposição do ser humano, tão abalado e submergido nas decepções com nossa espécie. Foi um obséquio a si mesmo e por si mesmo. Até que chegou ao porto a que lhe levaram a análise lúcida e científica, as releituras sérias, o diálogo com colegas e amigos em círculo mais restrito, com dinâmica e sabor do coletivo comprometido eticamente com a dignidade humana, foi a trilha iluminante encontrada como projeto de caminhada e de chegada a este estágio de sua e da nossa luta.

Pelo que relatou na entrevista, foi nesse processo que, em diálogo com a nobreza humana que ajudou a construir com juristas, advogad@s, juízes e amig@s, conseguiu reencontrar sua alma e seu rosto. Eis o caminho libertador e revolucionário que compartilha conosco.

Parabéns e obrigado, meu irmão!

2. O fundo do poço

Sinceramente, Prof. Alysson, este momento de clausura involuntária, eivado de medo, de decepção, de solidão, de sensação de abandono e da tentativa de negação de sua dignidade, relatado de forma tão aberta e honesta, foi de imensa riqueza para nossa compreensão da conjuntura experimentada e do afundamento na dor, talvez a mesma sofrida por Sócrates, por Jesus ante os discípulos sonolentos e deprimidos no Getsêmani; por Antonio Gramsci, trancafiado na prisão fascista, de onde afloraram as contribuições das Cartas do Cárcere, uma imensa carga de denúncia do que a hegemonia capitalista pode fazer com um gênio e com a genialidade revolucionária; da irmã Dorothy Stang no imenso calvário sob a mira do revólver da UDR e do agronegócio até ser assassinada, etc. O senhor, mesmo próximo do inferno bem definido por Dante, levantou-se vivo e saudável, contando com os Josés de Arimateia, sempre prontos a ombrear os corpos das vítimas do terror, do assassinato e da barbárie.

Como se falasse diretamente a mim, recolhi sua mensagem do resgate de si mesmo, graças a tantos anjos que não recuam diante dos vampiros especializados em chupar o sangue dos justos.

Muito obrigado. O senhor falou de si e de todos nós.

3. Dever moral de colocar um basta na rede de assassinos

No seu depoimento, o senhor reconhece ser alvo da complexidade da rede dos assassinos e genocidas de reputação e exterminadores de vidas. Pela lógica delineada, esta barbaridade se tornou indesviável.

Tudo foi feito, passo a passo, para extinguir o senhor e a causa que abraça desde a juventude.

A conexão web, a partir de um site e de uma ONG imoralmente imperialista e de links anônimos, desencadeou a violência com características moralistas de cancelamento. Os propósitos foram e são sempre caluniosos e contrarrevolucionários. O que importa aos criminosos é sufocar a revolução. Assim, ao tentarem impedir a peregrinação que fez em torno de seus livros, divulgando as ideias em defesa da democracia socialista e operária, buscaram delapidar o seu poder catalizador das melhores mentes nacionais e de impor o debate crítico ao capitalismo opressor, injusto e satânico.

Por isso ecoou com força em mim a sua decisão de parar agora a perseguição que sofre.

Sua perseguição por parte da USP, que deu enorme “contribuição” à onda maléfica do cancelamento, da omissão imperdoável da esquerda, do movimento estudantil e das organizações docentes do país e do decreto nazista do governo fascista de São Paulo, caiu sobre o companheiro de modo a tentarem esmagá-lo, triturando sua alma e seus ossos.

Ao levantar-se indignado, o senhor faz muito bem ao povo brasileiro, à classe trabalhadora e à revolução socialista.

De cabeça erguida e consciência na luta contra os pernilongos fascistas, a serviço do imperialismo, o senhor, por um lado, mostrará que a omissão da esquerda eleitoral, social-democrata e identitarista é perfiladamente mau caráter, no reforço ao capitalismo e, por outro, aos trabalhadores, testemunha que, mesmo sob o mau tempo da perseguição perpetrada pelos covardes “anônimos”, a postura dos revolucionários é de pé em estado ousado.

A sua disposição de luta me animou sobremaneira e alegrou meu espírito revolucionário.

Muito obrigado por tudo isso, querido companheiro Prof. Alysson Mascaro.

O meu Arcebispo Primaz – da Igreja Anglicana do Brasil – Dom Frei Dr. Eduardo Farias, Secretário Municipal de Cultura de Juiz de Fora, MG, homologa esta carta e lhe envia abraços solidários e fraternos.

* Este é um artigo de opinião, de responsabilidade do autor, e não reflete a opinião do Brasil 247.

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