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Oliveiros Marques

Sociólogo pela Universidade de Brasília, onde também cursou disciplinas do mestrado em Sociologia Política. Atuou por 18 anos como assessor junto ao Congresso Nacional. Publicitário e associado ao Clube Associativo dos Profissionais de Marketing Político (CAMP), realizou dezenas de campanhas no Brasil para prefeituras, governos estaduais, Senado e casas legislativas

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A hipocrisia do corte de gastos

Preferem tirar recursos da saúde e da educação — de quem mais precisa — a mexer com os lucros dos que enriquecem às custas da especulação

Fernando Haddad e Hugo Motta (Foto: Marcelo Camargo/Agência Brasil)

Israel, sob o comando de Binyamin Netanyahu e mergulhado em uma crise interna profunda, ataca o Irã. A justificativa? O argumento de que o país persa estaria próximo de desenvolver uma bomba atômica — o que, para os defensores da ofensiva, representaria um risco à humanidade, já que esse armamento estaria nas mãos de um regime de “malucos”, radicais e extremistas.

Para mim, ninguém deveria ter bomba atômica, para começo de conversa. O chamado Tratado de Não Proliferação deveria, na verdade, ser um tratado de extinção. Mas não é. Os Estados Unidos — e vejam só — Israel, ambos possuem arsenais nucleares.

Ora, ninguém em plena sanidade e com um mínimo de honestidade intelectual deixaria de reconhecer que Trump e Bibi são, sim, radicais, extremistas e malucos. Mas lá estão eles, com o poder de ameaçar quem quiserem — ou quem tenha algo que eles desejem — com o simples apertar de um botão vermelho ou o uso dos códigos da maleta nuclear.

Essa hipocrisia também aparece no debate sobre as medidas fiscais enviadas pelo governo ao Congresso Nacional. Parlamentares alegam que a proposta não contém cortes suficientes nos gastos públicos. Mas sobre os R$ 60 bilhões em emendas parlamentares ou o fim dos supersalários no serviço público, silêncio absoluto.

Assim como o ataque ao Irã serve de cortina de fumaça para encobrir a queda de popularidade de Netanyahu, a gritaria por cortes de gastos tem servido para esconder o que realmente se busca: proteger os interesses de bancos e casas de apostas, que, se depender de parte do Congresso, continuarão pagando menos impostos.

Preferem tirar recursos da saúde e da educação — de quem mais precisa — a mexer com os lucros dos que enriquecem às custas da especulação e da fé do povo brasileiro. Mas quando se acidentam, correm para o 192 pedindo socorro.

A senha parece ter sido dada pela ministra Gleisi em entrevista publicada hoje. Se seguirem com esse discurso chantagista, a resposta pode ser simples: contingenciamento ainda maior das emendas parlamentares. A matemática é clara.

Mas há outro caminho. O Congresso poderia aprovar uma lei autorizando o governo a suspender o pagamento das amortizações da dívida pública com os bancos. Que tal congelar esses pagamentos por 20 anos, sem juros? Os parlamentares, tão zelosos com a redução de gastos, poderiam começar por aí. Afinal, dos mais de R$ 5 trilhões do orçamento federal, mais de R$ 2 trilhões vão para amortização da dívida — e note-se, nem é o pagamento, é apenas a amortização.

Resolveríamos o problema das contas públicas. E, por favor, não venham com a história de que isso quebraria o sistema financeiro. Estamos falando de juros abusivos cobrados sobre dinheiro que os bancos emprestaram sem sequer ser deles. Juros escorchantes.

* Este é um artigo de opinião, de responsabilidade do autor, e não reflete a opinião do Brasil 247.

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