Adesão da Colômbia à Nova Rota da Seda é “passo histórico”, diz especialista
Para sinóloga Lina Luna, país pode se transformar em polo logístico e tecnológico, com foco em infraestrutura, biodiversidade e integração regional
247 - A entrada formal da Colômbia na Iniciativa Cinturão e Rota (BRI, na sigla em inglês) representa um marco importante para o país andino, com potencial de remodelar sua inserção econômica e política na América Latina. A avaliação é da sinóloga Lina Luna, professora de Relações Internacionais da Universidade Externado da Colômbia, em entrevista concedida à agência chinesa Xinhua e publicada no último dia 27 de maio.
Segundo Luna, a adesão colombiana à plataforma de cooperação global proposta pela China pode “destravar uma ampla gama de oportunidades de desenvolvimento”, sobretudo nos campos da infraestrutura, pesquisa e transferência de tecnologia. Ela afirma que esse movimento também fortalece o papel estratégico da Colômbia como ator regional.
“O déficit de infraestrutura do país torna esse setor um ponto de partida lógico para concretizar os benefícios tangíveis da BRI”, afirmou, destacando que os impactos podem ser sentidos diretamente na vida cotidiana da população colombiana.
Conhecimento ancestral e tecnologia: uma nova abordagem
Além das obras de infraestrutura, Lina Luna sublinha que a cooperação com a China pode impulsionar a criação de centros de pesquisa e laboratórios voltados para o uso estratégico de recursos como o cacau, o café e as flores — hoje tratados majoritariamente como commodities de exportação.
“A ideia não é apenas tratar cacau, café e flores como produtos de exportação”, afirmou. “Precisamos criar laboratórios e centros de pesquisa aqui para explorar seus melhores usos, potencial de valor agregado, estratégias de exportação e formas de preservar nossa biodiversidade.”
A sinóloga ressaltou que há forte convergência entre os objetivos internos da Colômbia — como a redução da pobreza, a superação do conflito armado e a preservação ambiental — e os projetos promovidos pela parceria sino-colombiana. Ela defende o aprofundamento do vínculo bilateral como caminho para atingir metas nacionais com maior eficácia.
Integração regional além do comércio
No atual contexto político, a Colômbia ocupa a presidência pro tempore de blocos como a Comunidade de Estados Latino-Americanos e Caribenhos (CELAC), posição que, segundo a professora, deve ser aproveitada para liderar projetos de integração infraestrutural na América Latina.
“Quando falamos em infraestrutura para integração, devemos pensar além do comércio”, disse Luna. “Trata-se também de mobilidade laboral, de permitir que os cidadãos latino-americanos tenham mais independência e oportunidades dentro da própria região. Essas são possibilidades reais que a Colômbia agora pode ajudar a concretizar.”
Ela argumenta que a localização geográfica do país — banhado pelos oceanos Pacífico e Atlântico, com acesso à Amazônia e à ponte natural entre América Central e América do Sul — é uma vantagem que pode ser melhor explorada com apoio logístico e investimentos estratégicos.
“A geografia da Colômbia sempre ofereceu esse potencial. Agora, com as ferramentas políticas e econômicas certas, é possível, enfim, realizar essa promessa”, declarou.
Visão de Estado e aprendizado com a China
Luna também vê na adesão à BRI a chance de uma transformação mais profunda na visão política colombiana, que vá além de governos e ciclos eleitorais. “Isso não é apenas um programa de governo”, disse. “Trata-se de uma visão mais ampla de Estado. Aprender com a experiência da China em sua cooperação com outros países da América Latina pode oferecer lições valiosas.”
Para ela, a iniciativa pode ser a chave para reconfigurar a imagem internacional da Colômbia — por muito tempo associada a conflitos armados e narcotráfico — e reposicionar o país como um polo logístico e um exemplo de uso sustentável da biodiversidade.
“A Colômbia pode deixar de ser vista apenas como um país de conflito e drogas e se tornar um ator regional com capacidade logística e ambientalmente sustentável”, concluiu.
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