Aposentado transforma lixão em floresta urbana e anuncia biblioteca no Parque Tiquatira
O Parque Linear Tiquatira é considerado o primeiro parque linear da cidade de São Paulo e um dos maiores da América Latina
Beatriz Bevilaqua, 247 - Há 21 anos, um antigo lixão na zona leste de São Paulo começou a se transformar em um dos maiores parques lineares da América Latina. O responsável por essa mudança radical não foi uma empreiteira, uma ONG ambientalista ou um projeto governamental. Foi Hélio da Silva, um aposentado que, inconformado com o abandono da região, decidiu agir com as próprias mãos.
Desde o ano 2000, Hélio já plantou mais de 41 mil árvores, reconstituindo parte da Mata Atlântica e devolvendo à cidade não apenas vegetação, mas também dignidade, biodiversidade e saúde mental. Sua ação transformou o que era um espaço tomado por entulho, tráfico e violência em uma floresta urbana viva, frequentada por crianças, idosos, atletas, famílias e moradores em busca de paz e ar puro.
“Moro aqui há 66 anos. Já tive oportunidades de me mudar, mas senti que o bairro precisava de mim, e eu precisava do bairro”, conta. “Hoje, tenho certeza de que plantar árvores é plantar saúde, sombra e esperança.”
O Parque Linear Tiquatira, que ocupa cerca de 320 mil metros quadrados e se estende por 3,2 quilômetros ao longo do rio Tiquatira, é considerado o primeiro parque linear da cidade de São Paulo e um dos maiores da América Latina. Está localizado entre os bairros da Penha e Cangaíba, em uma das regiões mais populosas e menos arborizadas da cidade.
A motivação para começar veio de uma caminhada matinal com a esposa, quando o cenário de degradação provocou um incômodo insuportável. “Vi que ali existia uma área pública totalmente abandonada. Tomada por entulho, tráfico, prostituição. Naquele momento, prometi que em 10 anos transformaria tudo aquilo.” A meta se cumpriu e foi além.
Mas Hélio não saiu simplesmente espalhando mudas. Estudou, buscou orientação com agrônomos e biólogos, e aprendeu na prática o que plantar, onde e como. “Plantar errado também destrói o ecossistema. É preciso critério. Aprendi com especialistas e observando projetos de reflorestamento em outros países.”
Hoje, o parque abriga diversas espécies nativas da Mata Atlântica, como ipês, palmeiras, figueiras e pau-brasil, além de mais de 100 espécies de aves que retornaram à região. Pequenos mamíferos e insetos polinizadores também reapareceram. “Não é só uma questão estética. A floresta tem função ecológica real. Ela purifica o ar, reduz a temperatura, retém água da chuva e devolve a vida a um ecossistema que estava morto.”
Efeitos para além do verde
Estudos do Instituto Escolhas e da Fiocruz mostram que áreas verdes urbanas contribuem para a redução de doenças respiratórias, transtornos de ansiedade e depressão, além de diminuição da temperatura em até 5ºC em regiões periféricas.
Agora, Hélio dá um novo passo: anunciou a criação de uma biblioteca comunitária dentro do Parque Tiquatira, como forma de ampliar o acesso à leitura e à formação cultural da população local. A ideia é que a biblioteca funcione em estrutura simples, construída com materiais reaproveitados, e com acervo de doações.
“Amor, generosidade e conhecimento não podem ser guardados, precisam ser compartilhados”, afirma. “Já temos livros chegando. O próximo passo é montar uma estrutura aberta, para que todos tenham acesso ao saber em meio à natureza.”
A biblioteca deve receber o nome de Biblioteca Semente, em referência ao que Hélio planta todos os dias: conhecimento, afeto e árvores. Uma campanha para arrecadação de livros, bancos, estantes e apoio logístico será lançada nos próximos meses.
Hélio segue firme aos 74 anos, acorda todos os dias às 6h da manhã e dedica pelo menos quatro horas ao cuidado da floresta que criou. “Enquanto tiver força, vou continuar plantando por mim, pela minha cidade e por quem ainda vai nascer.” Assista na íntegra:
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