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Henrique Pizzolato

Ex-sindicalista bancário; ex-presidente da CUT Paraná; ex-diretor da Previ e do Banco do Brasil; militante de Direitos Humanos e membro da Rede Lawfare Nunca Mais

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Trump inaugura a era das incertezas

Trump diz proteger o povo, mas suas políticas punem os trabalhadores e aposentados dos EUA e enfraquecem o próprio país

Donald Trump (Foto: Reuters/Carlos Barria)

A história política recente nos oferece figuras que, por sua imprevisibilidade e excesso de vaidade, acabam se tornando mais personagens do que estadistas. Donald Trump é, sem dúvida, uma dessas figuras. Desde sua volta à presidência dos Estados Unidos em 2025, temos assistido, não a uma condução serena da maior economia do mundo, mas a uma série de decisões desastrosas que revelam um líder preso à ilusão de grandeza, guiado por impulsos e slogans vazios.

O que mais choca é que essas decisões, travestidas de patriotismo e protecionismo, acabam, na prática, penalizando os próprios trabalhadores e aposentados norte-americanos, corroendo sua dignidade com a mesma intensidade com que desvalorizam a moeda do país e reduzem seu poder de compra.

Trump, com a pompa de quem acha que comanda um império comercial do século XIX, impôs uma tarifa universal de 10% sobre todas as importações, chegando a absurdos como 46% sobre produtos do Vietnã e mais de 30% sobre mercadorias chinesas. O pretexto? "Defender empregos americanos".

Mas a realidade é mais amarga do que seu discurso. Ao taxar produtos essenciais, Trump aumentou o custo de vida da classe média e dos mais pobres, que dependem justamente dos itens mais baratos, muitas vezes importados, para viver com o mínimo de dignidade.

O supermercado ficou mais caro. O celular, a geladeira, o tênis do filho, o medicamento da mãe. A tarifa não protege o povo. Ela protege o mito, o mito de um Trump industrialista que só existe em seus delírios de campanha.

Como se as tarifas não bastassem, Trump causou em determinado momento a desvalorização do dólar por incertezas, acreditando que isso aumentaria a competitividade das exportações americanas.

Mas a moeda de um país é como o reflexo da confiança que o mundo deposita nele. Ao atacar o próprio dólar, Trump semeia incertezas nos mercados, afugenta investidores e transforma os aposentados em vítimas silenciosas de uma inflação teimosa.

Aposentados americanos, que planejaram sua velhice com base em um dólar forte, agora se veem obrigados a voltar ao trabalho para pagar a conta da insensatez de um homem que brinca com o sistema financeiro global como se estivesse jogando Banco Imobiliário na cobertura da Trump Tower.

Trump se apresenta como o salvador da classe trabalhadora, mas governa como um magnata vingativo. Em nome de uma "América Forte", ele enfraquece justamente os alicerces que sustentam o povo americano: estabilidade, previsibilidade e bem-estar.

Ele diz combater a China, mas com suas tarifas e desvalorização cambial por incertezas empurra os americanos para uma inflação que corrói salários e liquida aposentadorias. Ele promete proteger os empregos, mas suas medidas geram instabilidade econômica, desaceleram investimentos e aumentam a chance de demissões. Ele se proclama patriota, mas governa para o próprio ego, e não para o bem comum.

Quando o império tropeça, outros povos se erguem. As trapalhadas econômicas de Trump, no entanto, têm um efeito colateral curioso: abrem oportunidades para outras nações.

Ao fechar portas, ele força o mundo a abrir janelas. Países latino-americanos, africanos e asiáticos buscam novas alianças comerciais, fortalecem suas moedas locais e constroem relações mais equilibradas, sem a dependência histórica do dólar.

A desvalorização por incertezas da moeda americana pode até parecer má notícia para o mundo à primeira vista, mas num olhar mais profundo, ela oferece ao Sul Global uma chance rara de reconstruir sua soberania econômica. O que Trump faz, sem querer, é permitir que outras nações ganhem espaço enquanto os EUA se perdem em seu próprio labirinto de retrocessos.

Nós, brasileiros, temos o dever de aprender com os erros dos outros. A política econômica de Trump é um alerta: protecionismo sem estratégia é como um remédio amargo dado ao paciente errado — agrava a doença ao invés de curá-la.

Aqui no Brasil, devemos buscar integração internacional com inteligência, proteger nossos trabalhadores com políticas públicas duradouras, não com bravatas, e fortalecer nossa moeda com responsabilidade fiscal e visão de futuro — não com populismo cambial.

Precisamos de líderes que pensem grande sem desprezar o povo, que falem a verdade sem esconder os números, que atuem com coragem, mas não com impulsividade.

Trump, em sua cruzada egocêntrica, não está apenas prejudicando os americanos. Ele está minando a credibilidade de um país que sempre foi símbolo de força econômica — ainda que controversa. Mas talvez, no fim das contas, sua vaidade seja o empurrão de que o mundo precisava para deixar de olhar para os EUA como o farol único do progresso.

Que os trabalhadores americanos resistam. Que os aposentados sejam ouvidos. E que os povos do mundo saibam que o autoritarismo econômico, disfarçado de patriotismo, é sempre o caminho mais curto entre a promessa vazia e o desastre anunciado.

* Este é um artigo de opinião, de responsabilidade do autor, e não reflete a opinião do Brasil 247.

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