Rei do Ovo personifica a elite do atraso
O Rei do Ovo remunera mal seus empregados – um operador de produção de suas granjas ganha em média R$ 1.670,00 mensais
Ricardo Faria, dono da Global Eggs, sediada em Luxemburgo, e alcunhado Rei do Ovo, é o retrato perfeito daquilo que o sociólogo Jessé Souza chamou de “elite do atraso”. Personifica o sujeito habilidoso em ganhar dinheiro, mas desprovido de inteligência e sensibilidade para quaisquer outros aspectos da vida em sociedade, incapaz de olhar além do próprio êxito financeiro.
O Rei do Ovo remunera mal seus empregados – um operador de produção de suas granjas ganha em média R$ 1.670,00 mensais. Como legítimo membro da elite do atraso, não gosta de pagar impostos no Brasil e transferiu seu domicílio fiscal para o Uruguai. Como seus pares, acha que o Estado brasileiro interfere demais nos negócios, especialmente no campo trabalhista. Obviamente, deve detestar pagar coisas como 13º salário e férias. O FGTS deve lhe causar arrepios.
Faria é um dos empresários mais ricos do Brasil, dá-nos conta a repórter Isabela Jordão, da direitista revista Oeste. À Folha de S. Paulo, o Rei do Ovo disse que compra uma empresa por mês. É, lógico, um defensor da informalidade no trabalho e nunca a relacionou com a precariedade.
Eis uma de suas frases sobre o ambiente de negócios no Brasil: “Operar no Brasil é comprar uma canoa, pegar o remo e começar a remar rio acima. Aí surge uma árvore caída, e dali a pouco você uma cobra, um jacaré”. Brilhante.
É um idólatra da meritocracia – bidu! -, considerando-se ele próprio um modelo de sucesso pelo esforço pessoal. Claro, esforço impulsionado pelo pai médico e a mãe engenheira, que lhe proporcionaram um intercâmbio nos Estados Unidos aos 15 anos e outros empurrõezinhos.
O Rei do Ovo, na verdade, talvez não passe de um baba-ovo. Baba-ovo de um país hoje xenófobo, como os Estados Unidos de Donald Trump, para ele modelo em termos de relações de trabalho, cuja economia foi construída pelos imigrantes ora expulsos.
Financiador de candidaturas parlamentares como as de Kim Kataguiri (União/SP) e Marcel Van Hattem (Novo/RS), o Rei do Ovo causaria surpresa se visse com bons olhos o Bolsa Família, que para ele financia vagabundos. De fato, a elite do atraso, da qual Faria é prócer, age como se desconhecesse os resultados do programa inclusivo, aplaudido e copiado mundo afora.
Certamente, Ricardo Faria não se comove – é provável que se incomode – com as recentes mudanças morfológicas na estrutura da sociedade brasileira, em parte desfeitas após o golpe contra a presidenta Dilma Rousseff, em parte retomadas com o terceiro mandado de Lula.
O Rei do Ovo, a fazer jus à elite da qual é prócer, a elite do atraso, jamais reconhecerá a importância de se construir um país de oportunidades àqueles que não podem vestir a fantasia da meritocracia. Nunca foi tão verdadeiro o diagnóstico de Jessé Souza, extraído do livro “A Tolice da Inteligência Brasileira – Ou Como o País se Deixa Manipular pela Elite”:
“Na realidade essa classe (chamada de ‘nova classe média’) não possui quaisquer dos privilégios de nascimento das classes médias e altas. Ao contrário, seus membros típicos têm que trabalhar desde cedo, frequentemente já aos onze ou doze anos, e conciliar escola e trabalho. Muitos são também superexplorados com jornadas de trabalho de até catorze ou quinze horas por dia, acumulando mais de um emprego e fazendo bicos de fim de semana, e, quando têm acesso ao ensino superior, o fazem em universidades privadas, cuja qualidade é muito inferior às universidades públicas, estudando à noite ou fazendo cursos à distância”.
São as pessoas descritas no parágrafo acima que, para o Rei do Ovo, deveriam se deixadas à própria sorte pelo Estado, livres para “empreender”.
* Este é um artigo de opinião, de responsabilidade do autor, e não reflete a opinião do Brasil 247.
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