Pernambuco, onde a irresponsabilidade e o negacionismo climático caminham juntos de mãos dadas com o poder público
Não há justificativa plausível para instalar uma escola militar em cima de nascentes
É o Estado dizendo: "Faça o que eu digo, não faça o que eu faço".
No dia 13/06/25, a governadora Raquel Lyra assinou termos aditivos de cooperação para instalação da Escola de Sargentos do Exército.
Assim como o Exército, a governadora ignora completamente as leis que regem a APA Aldeia Beberibe, num descaso ambiental sem precedentes, nunca visto em nosso Estado.
A governadora do Estado, Raquel Lyra, nunca recebeu os ambientalistas.
Deveria seguir o exemplo do ministro da Defesa, José Múcio Monteiro, que hoje entendeu a necessidade de conversar com os ambientalistas. Um ministro de Estado abre o canal de diálogo; a governadora do Estado não abre.
A vice-governadora Priscila Krause é outra negacionista climática, pois deveria seguir o exemplo de seu pai, o ex-governador de Pernambuco Gustavo Krause, que decretou em 1986 a Lei Estadual nº 9.860/86, definindo áreas de proteção de mananciais na região metropolitana do Recife. Sendo assim, estabeleceu normas para a preservação dos recursos hídricos, protegendo os aquíferos Beberibe e Barreiras, além de poços subsuperficiais e galerias filtrantes de Dois Irmãos.
O prefeito do Recife, João Campos, ao visitar o Comando Militar para conhecer o projeto do Complexo Militar do Exército e tirar fotos, esqueceu que seu pai, o saudoso ex-governador de Pernambuco Eduardo Campos, criou em 17/03/2010 a APA Aldeia Beberibe através do Decreto Estadual 34.692.
O ex-governador Paulo Câmara, do PSB, também novo na política, em seu discurso durante a Climate Week de 2019, em Nova Iorque, proferiu a seguinte frase: "O mal que se faz ao ambiente é dano cada vez mais irreversível. É autodestruição."
Lindas palavras, com um detalhe: em 06/02/2020, esse mesmo governador alterou o decreto original da APA Aldeia-Beberibe, assinado pelo então governador Eduardo Campos, propondo que o traçado norte do Arco Metropolitano cortasse o território protegido. Outro projeto que ameaça a APA Aldeia Beberibe. Arrudeia!!
Hoje, essas novas "lideranças" políticas são irresponsáveis ambientalmente e literalmente negacionistas climáticas, de mãos dadas com o Exército brasileiro.
Mais do que devastar a flora, o projeto ameaça a fauna já fragilizada, onde das 38 espécies de mamíferos da Mata Atlântica com algum grau de ameaça de extinção (ICMBio, 2018), 6 ocorrem na APA Aldeia-Beberibe, dentre elas o gato-do-mato e o gato-maracajá, correspondendo a 16% dos mamíferos ameaçados para o bioma, além de comprometer as nascentes do Rio Catucá, único rio que alimenta a Barragem de Botafogo. Em vez de zelar pela segurança hídrica, o Exército avança com uma obra megalomaníaca, orçada em R$ 1,8 bilhão.
Não há justificativa plausível para instalar uma escola militar em cima de nascentes, desrespeitando decretos estaduais que protegem os mananciais e os corredores ecológicos. O que deveria ser um espaço de formação cidadã se converte em um exemplo desastroso de desprezo pelo meio ambiente. Que lição se pretende dar aos jovens? Que destruir florestas e comprometer o futuro do planeta é aceitável?
O apoio da maioria da bancada estadual e federal de Pernambuco ao desmatamento é vergonhoso e, pior, o silêncio dos "bons", de quem se esperava defender o meio ambiente, tais como o senador Humberto Costa, a senadora Teresa Leitão e o deputado federal Carlos Veras, todos do Partido dos Trabalhadores.
A grande mídia do Estado se cala.
São coniventes com o cinismo social e descaso ambiental da Escola de Sargentos do Exército.
O Exército nunca foi e nunca será bom exemplo.
Um histórico de golpes, perseguições, torturas e mortes na ditadura.
Agora, esse mesmo Exército segue a trilha dos ecocidas: desmatar, não respeitando as alternativas locacionais.
Vale lembrar ao Comando do Exército Brasileiro as palavras do coronel Vidal, ex-diretor do CIMNC, onde o Exército quer construir o Complexo Militar e sua Escola de Sargentos.
Matéria de 04/09/2017 no Blog Montedo:
"Isso aqui é um tesouro ambiental. Há uma enorme variedade de fauna e de flora guardada aqui. E o mais incrível é que muitos pernambucanos desconhecem isso. Se olharmos a imagem aérea da Região Metropolitana do Recife, veremos claramente uma mancha verde se destacando. É justamente a área do CIMNC com suas florestas preservadas. Uma coisa linda!"
E ainda disse: "As pessoas precisam conhecer este patrimônio da União!"
O Exército Brasileiro precisa atender às alternativas locacionais, seria menos desgastante para a instituição, que já não anda com sua imagem muito boa, e para a sociedade civil, que já sente os efeitos da crise climática e não tolera sequer ver a derrubada de uma árvore, imagine de 200 mil.
Isso vai cair mal para o Exército, Governo Federal e Estadual em pleno ano da COP30! Certamente, esse crime ambiental vai cair na conta da pressão não só nacional como internacional.
A crise climática bateu na porta.
As águas dos oceanos e o termômetro sobem, e os poderes constituídos pouco se importam, preferem empurrar o abacaxi para nossos filhos e netos.
Falta responsabilidade ambiental, sobra greenwashing (maquiagem verde) dos gestores.
Acorda MPF, MPPE, TCU. Técnicos concursados do Ibama e da AGU, os comissionados passam. As instituições e os efetivos não.
* Este é um artigo de opinião, de responsabilidade do autor, e não reflete a opinião do Brasil 247.
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