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Washington Araújo

Jornalista, escritor e professor. Mestre em Cinema e psicanalista. Pesquisador de IA e redes sociais. Apresenta o podcast 1844, Spotify.

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Guerra Israel-Irã mostra a verdade silenciada e paz como eco distante

A verdade é a base do progresso humano, começando pela construção ética de cada indivíduo, e sua defesa exige vigilância, ceticismo e um compromisso com a paz

Mísseis lançados do Irã são vistos de Tubas, na Cisjordânia ocupada por Israel, em 13 de junho (Foto: REUTERS/ Raneen Sawafta)

Na escalada de tensões entre Israel e Irã, marcada por confrontos indiretos e narrativas conflitantes até outubro de 2023, a verdade é a primeira vítima de um conflito onde desinformação molda a percepção global. Neste artigo analiso o papel da desinformação na guerra de narrativas, exploro casos reais de manipulação, traço paralelos com a Segunda Guerra Mundial, examino o impacto das redes sociais geridas por Big Tech, e motivações estratégicas em rivalidade histórica desde a Antiguidade.

O dilúvio de informações e a guerra de narrativas

A rivalidade entre Israel e Irã, intensificada por ataques indiretos via proxies como o Hezbollah e operações cibernéticas até outubro de 2023, transcende o campo físico. A esfera digital, impulsionada por plataformas como X, Instagram e Telegram, tornou-se um teatro de operações onde a verdade é distorcida.

Um relatório da Universidade de Oxford (2023) estima que até 40% do conteúdo em redes sociais durante conflitos no Oriente Médio contém desinformação, seja por manipulação deliberada ou erro.

Israel justifica suas ações como respostas à ameaça do programa nuclear iraniano, enquanto o Irã se retrata como vítima de agressões, apoiando grupos como o Hamas. 

A contrainformação é uma arma central: ambos desmentem relatos adversários, frequentemente sem evidências verificáveis. Em 26 de outubro de 2023, Israel realizou ataques aéreos contra alvos militares no Irã, descritos por Benjamin Netanyahu como “precisos e poderosos” (Reuters, 2023). O Irã, por sua vez, alegou “danos mínimos” e prometeu retaliação (Al Jazeera, 2023). Essas narrativas conflitantes, amplificadas pela mídia, confundem o público global.A Anistia Internacional alertou em setembro de 2023 que a desinformação em conflitos regionais “obscurece violações de direitos humanos”, exigindo acesso a investigações independentes. A manipulação de informações, especialmente em Gaza, dificulta a proteção de civis, onde relatos de vítimas são frequentemente distorcidos.

Casos típicos de manipulação

Quatro exemplos reais, baseados em eventos até outubro de 2023, ilustram como a verdade é obscurecida:

1.  Ataque a instalações iranianas (26 de outubro de 2023): Israel atingiu alvos militares no Irã, alegando neutralizar ameaças nucleares. O Irã reportou dois soldados mortos e “danos limitados” (Al Jazeera, 2023). Imagens divulgadas por Teerã, mostrando destruição, foram questionadas por analistas da BBC Verify, que apontaram inconsistências. A narrativa iraniana de resiliência contrastou com a israelense de sucesso militar.2.  Ataque do Hamas em Israel (7 de outubro de 2023): O Hamas lançou uma ofensiva, matando cerca de 1.200 pessoas e capturando reféns (The Guardian, 2023). Israel acusou o Irã de financiar o ataque, enquanto Teerã negou envolvimento direto. Postagens em X amplificaram narrativas pró-Hamas, enquanto Israel divulgou vídeos de vítimas para galvanizar apoio, obscurecendo detalhes sobre a escalada.3.  Bombardeios em Gaza (outubro de 2023): Ataques israelenses em Gaza mataram mais de 8.000 pessoas, segundo o Ministério da Saúde palestino (Reuters, 2023). Israel alegou atacar alvos do Hamas, enquanto relatos palestinos denunciaram mortes civis. A BBC encontrou contradições em vídeos de ambos os lados, mas a falta de acesso a jornalistas independentes perpetuou a confusão.4.  Ataque a hospital em Gaza (17 de outubro de 2023): Uma explosão no hospital Al-Ahli matou centenas, com o Hamas acusando Israel e a IDF atribuindo o ataque a um foguete palestino mal disparado (The Guardian, 2023). Análises da Al Jazeera e da BBC não confirmaram a origem, mas narrativas conflitantes dominaram as redes sociais, inflamando tensões.

Esses casos mostram como a manipulação de informações demoniza o adversário e confunde a opinião pública.

Desinformação na Segunda Guerra Mundial

A desinformação é uma tática antiga. Durante a Segunda Guerra Mundial (1939-1945), os nazistas, sob Joseph Goebbels, disseminavam fake news, como alegações de que os Aliados planejavam exterminar alemães, para justificar a resistência (The Guardian, 2019). Os Aliados usaram a Operação Fortitude (1944), espalhando informações falsas sobre o Dia D, enganando os nazistas. Filmes nazistas como Der Ewige Jude (1940) demonizavam judeus, enquanto os EUA exageravam a brutalidade japonesa para galvanizar apoio. Essas estratégias ecoam nas táticas modernas de Israel e Irã.

A informação como arma de guerra

A manipulação da informação é essencial ao esforço de guerra. Israel usa narrativas para manter o apoio dos EUA, que forneceram US$ 3,8 bilhões em ajuda militar em 2023 (Reuters, 2023). Netanyahu, sob pressão após falhas de segurança em 7 de outubro, projeta força com operações como os ataques de outubro de 2023. O Irã, enfrentando sanções e crises econômicas, utiliza a propaganda para mobilizar o Eixo da Resistência e desviar a atenção de problemas internos.As motivações são claras: legitimar ações, desestabilizar o adversário e influenciar a opinião global. O Instituto Internacional de Estudos Estratégicos (IISS) estima que Israel gastou US$ 22 bilhões em defesa em 2022, contra US$ 9 bilhões do Irã (IISS, 2023).

Ambos investem em guerra cibernética, com Israel liderando em tecnologia e o Irã em redes de milícias. A

Human Rights Watch alertou em outubro de 2023 que a desinformação “amplifica o sofrimento de civis”, pedindo moderação na disseminação de conteúdos não verificados.

Big Tech e redes sociais no conflito

As redes sociais, geridas por Big Tech como X, Meta e TikTok, são palcos centrais da guerra de narrativas. Em outubro de 2023, a Cyabra identificou que 25% das contas no X publicando sobre o conflito Israel-Hamas eram falsas, amplificando narrativas polarizadas (Cyabra, 2023). Em Israel, o governo pressiona plataformas para remover conteúdos pró-Irã ou pró-Hamas, enquanto a sociedade civil exige transparência. A Meta removeu milhares de postagens em hebraico e árabe por desinformação em 2023, mas enfrentou críticas por inconsistências (The Guardian, 2023).No Irã, o governo bloqueia X e Instagram, mas permite o Telegram para propaganda estatal. Cidadãos dependem de VPNs, ficando vulneráveis a narrativas controladas. A União Europeia pressionou em 2023 por moderação sob a Lei de Serviços Digitais, ameaçando multas (Reuters, 2023). A Human Rights Watch criticou as Big Tech por falharem em conter conteúdos que incitam violência.

Um conflito com raízes antigas

A rivalidade entre Israel e Irã remonta à Antiguidade. Em 539 a.C., Ciro, o Grande, permitiu o retorno dos judeus exilados, conforme o Livro de Esdras (Bíblia, Esdras 1). Tensões surgiram sob Dario I e Xerxes I, com a Pérsia controlando a Judeia. A revolta dos Macabeus (167-160 a.C.) contra os selêucidas, aliados persas, marcou a resistência judaica (Encyclopaedia Britannica, 2020). Líderes como Davi (c. 1000 a.C.) e Judas Macabeu moldaram a identidade de Israel, enquanto comandantes persas como Datames (século IV a.C.) simbolizavam o poder militar.No século XX, a criação de Israel (1948) e a Revolução Islâmica no Irã (1979) acirraram tensões. O Irã, sob Khomeini, apoiou o Hezbollah, enquanto Israel intensificou operações contra o programa nuclear iraniano desde 2003 (BBC, 2023). Essa rivalidade, amplificada pela tecnologia, persiste.

A busca pela verdade em meio ao caos

A rivalidade Israel x Irã, marcada por eventos até outubro de 2023, ilustra como a verdade é sacrificada por interesses estratégicos. A desinformação, usada desde a Segunda Guerra Mundial até as redes sociais, obscurece fatos. Casos como o ataque ao hospital Al-Ahli mostram a dificuldade de discernir realidade de propaganda. As Big Tech, sob pressão, lutam para conter fake news, enquanto a Anistia Internacional e a Human Rights Watch exigem transparência. Essa rivalidade, enraizada na Antiguidade, ganhou contornos digitais, mas o padrão persiste: a verdade é distorcida para servir ao poder.

Como cidadãos, devemos ser rigorosos ao compartilhar conteúdo midiático, verificando a credibilidade das fontes e comparando perspectivas. Precisamos perguntar: “A quem beneficia este texto, este artigo ou este vídeo?” 

A ascensão da inteligência artificial, capaz de criar deepfakes e narrativas manipuladas, tornou-se um protagonista perigoso na erosão da verdade.

 A verdade é a base do progresso humano, começando pela construção ética de cada indivíduo, e sua defesa exige vigilância, ceticismo e um compromisso inabalável com a paz.

* Este é um artigo de opinião, de responsabilidade do autor, e não reflete a opinião do Brasil 247.

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