Faria Lima quer ativo real em vez de ativo fictício, irreal, candidato à desvalorização
O que tende a se transformar em segurança para o investidor, não é ativo financeiro, mas ativo seguro no cenário da debacle previsível da financeirização global
O diretor do BTG Pactual, Mansueto Almeida, economista-chefe do banco, ex-secretário de política econômica do governo Dilma Rousseff, fez declaração retumbante que dá o que pensar quanto ao que vai na cabeça dos banqueiros brasileiros, nesse momento, em que nunca ganharam tanto dinheiro na especulação financeira sob o tripé econômico neoliberal.
Segundo ele, a banca está muito preocupada com o déficit nominal do Brasil – soma de déficit primário + déficit financeiro – o qual projeta valor de cerca de 8,5% do Produto Interno Bruto (PIB), no final da atual gestão.
A preocupação, segundo Mansueto, baseia-se na elevada taxa de juros e na manutenção dos gastos públicos, que em eventual estouro transforma tudo em hiperinflação.
A diferença entre déficit primário – receita menos despesas, exclusive pagamento de juros -, em 2024, do governo central fechou o ano com um déficit primário de R$ 11 bilhões, cumprindo a meta fiscal.
Isso representa 0,09% do Produto Interno Bruto (PIB).
O governo federal conseguiu um bom resultado, com queda de 81,7% no déficit primário em comparação com 2023.
Portanto, de acordo com Mansueto, o que alarma o mercado financeiro, que financeiriza, totalmente, a economia, sob taxa Selic de 14,75% ao ano, não é o déficit primário, de, apenas, 0,09% do PIB, correspondente, em 2024, a R$ 11 bilhões, mas, sobretudo, o déficit financeiro, de 8,5% do PIB, que representou, nos últimos 12 meses, R$ 920 bilhões, ou seja, perto de R$ 1 trilhão!!!
Até quando o tesouro terá essa receita trilionária para transferir à Faria Lima, sem correspondência em termos de crescimento econômico sustentável?
Matematicamente, conclui-se que não adianta cortar gastos sociais, como os programas distributivos de renda, tipo Benefício de Prestação Continuada(BPC), para atender os mais pobres na escala social, ou o Bolsa Família, pagando R$ 600 para cada beneficiado, ou reajustar salário mínimo, tão somente, pela inflação do ano anterior, excluído crescimento do PIB dos dois anos antes, que desvalorizam os próprios gastos sociais, de modo a alcançar ajuste fiscal satisfatório, capaz de reduzir a taxa de juros e os gastos primários como um todo.
A distância monumental entre déficit primário de 0,9% do PIB = R$ 11 bilhões e déficit de 8,5% do PIB = R$ 920 bilhões continuaria exponencial, mesmo se fosse eliminado todo o déficit primário ou alcançado, até, superávit primário de 5%.
ESMOLA QUANDO É DEMAIS ATÉ POBRE DESCONFIA
Os credores da dívida pública brasileira, que ganham os juros de agiota, encarnados numa Selic de 14,75%, estão naquela de que quando a esmola é demais, até os pobres desconfiam.
É esse espírito de alarme que tomou conta de Mansueto de Almeida em sua declaração quanto ao que considera preocupante para os interesses dos banqueiros, detentores de riqueza fantástica, que não pára de crescer, frente à dialética da multiplicação especulativa.
Chegaria ou não o momento em que o governo perderia a capacidade de honrar o pagamento de juros e amortizações, sinalizando pânico aos possuidores de riqueza líquida fictícia?
A verdade oculta que Mansueto expressa, dando conta do receio dos seus patrões quanto ao que pode acontecer, é bastante simples, já transformada em sabedoria popular: quando a dívida é grande, extorsiva, demais, deixa de ser problema para o devedor e passa a ser do credor.
Por isso, não é exagero especular que o que domina a mente dos banqueiros, nesse momento, é a sua propensão de mirar naquilo em que o credor ainda dispõe: dos ativos reais deles, para se apossar dos mesmos.
O banqueiro, credor, de posse das promissórias dos devedores em suas mãos, que sentem ser impagáveis, vai, em último recursos, para não perder seu negócio, diante de expectativa de desvalorização de ativos fictícios, abocanhar ativos reais.
O que o Brasil tem que vale mais que sua própria dívida pública, se colocado para produzir a plena carga, alavancando produção, consumo, arrecadação e investimentos?
Suas empresas estatais, como Petrobrás, a Amazônia – e a sua biodiversidade infinita que não tem preço –, as empresas de energia elétrica, de águas – não esquecer que a Eletrobrás já foi sucateada – terras raras.
Mansueto Almeida estaria ou não sugerindo aos seus patrões que troquem dívidas, candidatas a se desvalorizarem, sob especulação do mercado, em patrimônio, temeroso quanto às expectativas negativas etc.
Passar nos cobres, como diz a imaginação popular!
O alarme dado por Mansueto Almeida – a verdade oculta que não ousa divulgar, por enquanto – é, portanto, esta: transformar a liquidez especulativa, que, a cada dia que passa, vira risco, em ativo real.
Nesse sentido, o que poderia ser considerado surreal, pode se transformar em real: os bancos enxergarem como desutilidade os ativos financeiros, candidatos à desvalorização, no cenário de possível colapso da financeirização, e defenderem a utilidade dos ativos reais como patrimônio seguro, só que não mais nas mãos do Estado, mas, nas deles, dos bancos, para renderem lucratividade por meio da privatização.
Afinal, o que tende a se transformar em segurança para o investidor, não é o ativo financeiro, candidato à desvalorização, mas o ativo real, seguro, no cenário da debacle previsível da financeirização global.
Ou um neo-colapso, à lá crash de 1929 ou à lá crash de 2008, materializaria a pregação de Marx de que tudo que é sólido se desmancha no ar em fumaça?
Não é à toa que o presidente americano Donald Trump só pensa em perfurar poço de petróleo e expandir territorialmente o império americano para apossar de riquezas alheias.
* Este é um artigo de opinião, de responsabilidade do autor, e não reflete a opinião do Brasil 247.
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