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Washington Araújo

Jornalista, escritor e professor. Mestre em Cinema e psicanalista. Pesquisador de IA e redes sociais. Apresenta o podcast 1844, Spotify.

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Das cordas do violino aos laços da paz: o caminho de superação de Paganini em meio às guerras

A última corda de Paganini ecoa em 2025 como símbolo de resistência, inspirando ação e esperança em meio a guerras e crises globais

Niccòlo Paganini (Foto: Reprodução )

Em 12 de outubro de 1829, o Teatro Nacional de Varsóvia, Polônia, foi palco de um evento que transcendeu a música, tornando-se um símbolo eterno de resiliência. Niccolò Paganini, aos 46 anos, era uma lenda viva, um violinista cuja fama atravessava continentes. Sua técnica inigualável atraía multidões ansiosas por presenciar sua genialidade, marcada por uma habilidade que parecia desafiar as leis da física.

Naquela noite, ele subiu ao palco para executar o Capricho nº 24, uma obra de virtuosismo extremo, exigindo precisão quase sobrenatural. A orquestra, conduzida por um maestro atento, preparava-se para acompanhar suas notas impecáveis. O público, em êxtase, aguardava um espetáculo memorável, digno da reputação do mestre.

No auge da apresentação, um estalo cortou o ar: uma corda de seu violino se rompeu. A orquestra silenciou, o maestro hesitou, e um murmúrio de surpresa percorreu a plateia. Sem demonstrar hesitação, Paganini continuou, extraindo sons impossíveis do instrumento danificado, como se desafiasse o próprio destino.

Antes que o público pudesse processar o feito, outra corda se partiu. A tensão no teatro cresceu, mas Paganini, com duas cordas, ajustou a melodia, mantendo a intensidade da performance. Um terceiro estalo anunciou uma ruptura final: restava apenas uma corda. O que poderia ter sido o fim tornou-se o início de algo extraordinário.

Com uma única corda, Paganini criou uma sequência de notas que levou o público de um silêncio atônito a uma ovação ensurdecedora. Naquela noite, ele não apenas salvou um concerto; redefiniu o que significa transformar caos em arte, consolidando sua lenda como um ícone de superação e genialidade.

A última corda e o caos do mundo contemporâneo

A história de Paganini ressoa com força em 2025, em um mundo marcado por conflitos que testam os limites da resiliência humana. Em 1º de outubro de 2024, Israel lançou ataques aéreos contra o Irã, visando instalações nucleares, sob a alegação de que o programa nuclear iraniano representava uma ameaça existencial. O Irã retaliou em 2 de outubro com mísseis balísticos, matando 12 civis em Tel Aviv e ferindo 300, segundo o Ministério da Saúde de Israel. O Irã reportou 250 mortos, incluindo cientistas e civis, e danos significativos em Teerã e Isfahan, conforme a agência estatal IRNA. A escalada intensificou tensões regionais, com cidades de ambos os lados marcadas por escombros e medo.

Em 24 de fevereiro de 2022, a Rússia invadiu a Ucrânia, justificando a ação como resposta à aproximação ucraniana com a OTAN, vista como uma ameaça devido aos 2.295 km de fronteira compartilhada, que poderiam abrigar bases militares ocidentais. Até junho de 2025, a ONU estima 10.982 civis mortos e 21.155 feridos na Ucrânia, com cidades como Mariupol e Kharkiv reduzidas a ruínas. Estimativas da BBC e do Ministério da Defesa ucraniano indicam cerca de 89.440 soldados russos mortos. A Ucrânia enfrenta uma crise humanitária com 3,7 milhões de deslocados internos, enquanto a Rússia lida com sanções econômicas severas e isolamento global, agravando a instabilidade interna.

Em 7 de outubro de 2023, o Hamas, grupo terrorista palestino, atacou Israel, matando 1.195 pessoas, incluindo 815 civis, e sequestrando 251, segundo o governo israelense. A resposta militar de Israel, iniciada em 27 de outubro, devastou Gaza, matando 55.104 palestinos e ferindo 127.394 até 11 de junho de 2025, segundo o Escritório das Nações Unidas para a Coordenação de Assuntos Humanitários (OCHA). O OCHA, criado em 1991 pela Resolução 46/182 da Assembleia Geral da ONU, coordena respostas humanitárias globais, mobilizando governos, ONGs e agências para fornecer ajuda emergencial, como alimentos, água e assistência médica, em crises como guerras e desastres naturais. Na Cisjordânia, 938 palestinos e 49 israelenses morreram. Gaza enfrenta a destruição de 70% de suas construções, com 1,9 milhão de deslocados, fome generalizada e colapso do sistema médico, enquanto a Cisjordânia sofre com operações militares e violência. Israel lida com perdas econômicas de US$ 67 bilhões, conforme o Banco de Israel, e traumas sociais profundos.

Esses conflitos, distintos em suas origens, compartilham com a história de Paganini uma lição humanista: quando todas as ferramentas parecem falhar, a capacidade de extrair sentido do caos define a essência da humanidade. A última corda pode ser a esperança, a solidariedade ou a determinação de reconstruir, mesmo em meio à destruição.

Persistência como ato de resistência

A persistência de Paganini ilumina uma verdade filosófica: adversidades são portas para capacidades inexploradas. Inspirado por Friedrich Nietzsche, que no conceito de amor fati propôs abraçar o destino, Paganini transformou cordas perdidas em uma nova linguagem musical. Em Gaza, voluntários organizam cozinhas comunitárias em meio a escombros, oferecendo alimento onde a fome reina. Na Ucrânia, professores lecionam em abrigos subterrâneos, mantendo a educação viva sob bombardeios. No Irã, cientistas persistem em pesquisas, apesar das tensões e sanções.

Na prática, a lição de Paganini é universal. Quando enfrentamos perdas — um emprego, uma relação, a saúde —, ele nos ensina a focar no que resta, recalibrando planos e transformando limitações em oportunidades. Em um mundo instável, onde conflitos e crises desafiam a ordem, persistir é um ato de rebeldia contra o desespero. É a afirmação de que, com uma única corda, ainda podemos criar harmonia, seja na reconstrução de uma comunidade ou na busca por soluções em meio ao caos.

Compromisso em tempos de crise

O compromisso de Paganini com sua arte e seu público é um modelo de dever inabalável. Ele poderia ter abandonado o palco, justificando-se pelo imprevisto, mas escolheu transformar vulnerabilidade em triunfo. Esse senso de responsabilidade ressoa profundamente em um mundo onde o compromisso com o outro é constantemente testado.

Na guerra Israel-Irã, a retórica beligerante abafa vozes que clamam por diálogo e paz. Na Rússia-Ucrânia, a destruição mútua desafia esforços diplomáticos para um cessar-fogo. Em Gaza e na Cisjordânia, a indiferença global agrava uma crise humanitária, com 82% de Gaza sob zonas militarizadas, segundo o OCHA. Paganini nos lembra que o compromisso — com a justiça, a verdade, a humanidade — eleva ações ordinárias a feitos extraordinários, capazes de inspirar mudanças.

Hans Jonas (1903-1993), filósofo alemão conhecido por sua ética da responsabilidade, defendia que nossas ações devem considerar o impacto nas futuras gerações. Em tempos de guerra e crise, nossas escolhas moldam o futuro. Jornalistas que arriscam a vida para relatar a verdade em zonas de conflito, ativistas que lutam por cessar-fogos e cidadãos que doam tempo e recursos para ajudar refugiados são Paganinis modernos. Eles tocam com paixão e propósito, transformando o caos em sementes de esperança.

Lições jornalísticas em um mundo em chamas

Para jornalistas, a história de Paganini é um guia ético e prático. Como ele trabalhou com uma única corda, jornalistas frequentemente operam com recursos escassos — prazos apertados, orçamentos reduzidos, acesso limitado a fontes. Sua criatividade ensina a humanizar números, como os 55.104 mortos em Gaza ou os 10.982 civis mortos na Ucrânia, dando voz aos 1,9 milhão de deslocados em Gaza e aos 3,7 milhões na Ucrânia. Essas histórias transformam estatísticas em rostos, dores e esperanças.

O compromisso de Paganini reflete a essência do jornalismo: informar com precisão, resistir à desinformação e manter a credibilidade. Sua confiança inspira jornalistas a buscar fontes confiáveis, como a ONU, o OCHA e a BBC, e a evitar narrativas polarizadas que alimentam divisões. Em coberturas de guerra, transformar desafios em narrativas impactantes é um ato de responsabilidade social, um chamado para iluminar a verdade e promover a empatia.

Um chamado à ação em tempos sombrios

A história de Paganini é um manifesto pacifista para nosso tempo. Em um mundo onde conflitos como os de Israel-Irã, Rússia-Ucrânia e Gaza-Cisjordânia revelam a fragilidade da ordem global, sua lição é clara: mesmo com todas as cordas rompidas, resta uma — e com ela, podemos criar algo extraordinário. Essa corda é a coragem de um voluntário em Gaza, distribuindo alimentos em meio à destruição; a resistência de um ucraniano, reconstruindo sua comunidade sob ameaça; a busca por diálogo no Irã, apesar das tensões.

Filosoficamente, Paganini nos convida a abraçar a imperfeição como parte da condição humana, convertendo falhas, perdas e medos em oportunidades de crescimento. Praticamente, ele nos desafia a agir: doar recursos para aliviar a fome em Gaza, dialogar para construir pontes de paz, criar soluções que promovam a reconciliação. A crise humanitária em Gaza e na Cisjordânia, onde 90% da população está deslocada e enfrenta fome e falta de assistência médica, segundo o OCHA, exige ação urgente.

Que a história de Paganini nos inspire a enfrentar o caos com coragem, transformar adversidades em conquistas e escrever, com paixão e humanidade, sinfonias de superação. Que cada um de nós, como ele, encontre sua última corda e toque com ousadia, propósito e esperança, construindo um futuro onde a paz prevaleça sobre o conflito.

* Este é um artigo de opinião, de responsabilidade do autor, e não reflete a opinião do Brasil 247.

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