César Fonseca avatar

César Fonseca

Repórter de política e economia, editor do site Independência Sul Americana

808 artigos

HOME > blog

Americanófilo William Waack foge do debate sobre decadência americana na CNN

Os democratas Obama e Biden, antecessores de Trump, dificilmente poderiam ser considerados adeptos do Soft Power

William Waack (Foto: Reprodução/Twitter/@CNNBrasil)

William Waack, comentarista político pró-Washington da CNN, reuniu, no último fim de semana, três especialistas em Relações Internacionais -  Hussein Kalout, cientista político(CP), pesquisador em Harvard; Feliciano de Sá Guimarães, CP, USP, e Philip Yang, CP, CEBRI – para debater último artigo de Joseph Nye, “Soft Power”, no Foreign Affairs.

Joseph Nye, especialista americano em estratégia global, morto em maio, discute em “Soft Power”, o que está virando, mundialmente, conversa de botequim: “É o fim do longo século americano?”

Para início de conversa considerar os Estados Unidos praticante de soft power é um contra senso, sabendo serem eles a nação mais agressora do planeta, muito distante do que seria a praticante da persuasão em vez da agressão, como demonstração de verdadeiro poder.

Os democratas Obama e Biden, antecessores de Trump, por exemplo, dificilmente poderiam ser considerados adeptos do Soft Power, bem como antes deles Bush pai, Bill Clinton e Bush filho, visto que atacaram imperialmente terceiros países à revelia da ONU, revelando-se verdadeiros agressores.

E, em relação ao Brasil, por exemplo, no governo Dilma, Obama declarou guerra a um terceiro país, estando em território brasileiro, enquanto Biden apoiou o golpe de estado, que levou os fascistas ao poder, com Temer e Bolsonaro, no intervalo de 2016 a 2022, derrubando a democracia brasileira.

Os três debatedores, convidados de William Waack, unanimemente, responderam “Sim” à indagação dele, quanto ao fato de que se chegou ou não ao fim o centenário reinado imperialista no mundo.

Os Estados Unidos, concordaram, não são mais aquela Brastemp, por não desfrutarem mais dos pilares da confiança nos cinco continentes.

Portanto, como potência hegemônica, já eram.

No campo militar e comercial, essencialmente, correm atrás da Rússia e da China.

O prestígio do império ficou, seriamente, abalado diante da derrota, para a Rússia, da OTAN, que Washington financiou, para ter a Europa a seu lado, na Ucrânia, de modo a servir de cabeça de ponte, objetivando destruir Moscou.

Se deu muito mal.

Já, diante da China, o imperialismo americano não consegue mais ficar de pé, em matéria de competitividade e de produtividade.

Depois de alcançar o predomínio industrial, correspondente a 60% do PIB americano, nos anos 1960, atualmente, a indústria representa, apenas, 7%.

Trump, simplesmente, jogou a toalha no ringue, reconhecendo tanto a superioridade militar russa como o domínio comercial chinês.

Sequer, o império manteve sua palavra, exposta pelo presidente, de acabar, o mais rápido possível, com a guerra na Ucrânia, depois da derrota humilhante da OTAN.

MEDO DE PUTIN

O chefe boquirroto da Casa Branca buscou uma acomodação com o presidente russo, Vladimir Putin, nos termos impostos por este, em troca de vantagens expressas em conquistas territoriais ucranianas ricas em minerais.

Debalde.

O presidente americano não teve, até agora, forças suficientes para isso, restando-lhe, tão somente, bravatas, que engordam resistências dos europeus em busca do armamentismo, sem, no entanto, dispor de poder monetário, para fazer valer uma Europa poderosa, capaz de dobrar Putin, salvo em intenções traduzidas em discurso no qual ninguém acredita.

Onde os principais líderes europeus – especialmente, inglês, alemão e francês – levantarão 800 bilhões de dólares para armar o velho continente, objetivando colocar Putin de joelhos, como sonham, se o líder russo tem a seu dispor os mísseis atômicos mais poderosos do mundo, capazes de alcançar em poucas horas as capitais europeias, destruindo-as?

Ao poder econômico e militar ocidental falta bala na agulha, no cenário da financeirização econômica, que sustentou, até o momento, a economia de guerra imperialista.

Quanto a esse aspecto, ficou comprovada a insuficiência econômica e financeira dos Estados Unidos, a partir do instante em que Trump deixa a Europa/OTAN de lado e detona guerra tarifária, tanto contra seus velhos aliados, europeus, canadenses, japoneses, mexicanos, coreanos e asiáticos, sem mencionar a maior adversária, a China, contra a qual Washington não consegue ser convincente.

COLAPSO DA FINANCEIRIZAÇÃO IMPERIALISTA

Trump, com sua guerra tarifária, pôs fim ao acordo de Bretton Woods, de 1944, por meio do qual a império americano, sob a hegemonia do dólar, sustentava déficits comerciais, cobertos por superávits financeiros, graças ao amplo poder monetário, expresso em senhoriagem imperialista incontestável.

Com os déficits comerciais, Washington, ainda hoje, financia a dívida pública, renovando ininterruptamente títulos do tesouro, a juros e inflação baixos, por enquanto.

Mas o fôlego do império terminou.

A farra imperial, capaz de importar barato, devido à desvalorização monetária dos concorrentes diante do dólar valorizado, terminou com o crash de 2008.

Ela produziu, no entanto, a desindustrialização americana, contra a qual Trump move guerra tarifária, sem, ainda, alcançar qualquer resultado satisfatório.

A inflação e os juros altos, que o ataque trumpista ao déficit comercial provoca, são comprovações incontestáveis que a guerra tarifária produz, para aprofundar a desindustrialização.

A China, nesse contexto, no qual se apresenta com a vantagem de larga produtividade e competitividade superiores, deixa os Estados Unidos em desvantagem, acelerando desemprego, inflação e juros altos.

Nos últimos meses, Trump tentou dobrar o presidente do FED, Jerome Powell, para a tarefa inglória de reduzir os juros especulativos incidentes sobre os títulos do tesouro americano.

Precisa do Japão, para fazer carry over.

Não consegue, porque o titular da Casa Branca, não tem o poder real para executar essa tarefa, ininterruptamente.

Trump perde a parada para a financeirização, que, ao mesmo tempo, é a maior ameaça ao império, dado que ela produz o incontrolável crescimento da dívida pública, já na casa dos 37 trilhões de dólares, a exigir do tesouro americano emissão monetária próxima de 9 trilhões em pagamento anual de juros e serviços.

Resultado: os mercados aceleram especulação com o dólar, no processo de desdolarização, em favor do avanço de trocas comerciais em moeda local, como passaram a pregar, largamente, os BRICS, força real do Sul Global, superior ao G7.

WAACK FOGE DA RAIA

As convincentes respostas dos interlocutores do russofóbico William Waack, incapaz de convencer os telespectadores da CNN de que segue forte a capacidade de competição militar e comercial americana frente aos seus dois principais adversários, China e Rússia, para os quais o comentarista e jornalista da emissora pró-Washington alimenta argumentos carregados de indisfarçável antipatia ideológica, o levaram a uma promessa não cumprida: argumentou que teria de terminar o programa, devido ao horário pré-estabelecido, mas que, a partir daí, o debate continuaria no canal de youtube.

Prometeu que as conversas iriam continuar em meio às cascas de banana, dados os argumentos ácidos de Philip Young, Feliciano de Sá Guimarães e Hussein Kalout, potencializando suas pregações quanto à incapacidade dos Estados Unidos de seguirem como potência hegemônica.

Waack, no entanto, não suportou o bombardeio dos interlocutores, quando o assunto girou em torno de que posição o Brasil deveria adotar diante do novo contexto global em que os Estados Unidos deixaram de ser fator de vantagem ou desvantagem comparativa para a posição brasileira em comparação com os seus parceiros do BRICS, onde a força agregadora de China e Rússia representa segurança para os parceiros, na equiparação com os Estados Unidos.

Hussein Kalout destacou que a posição da América do Sul merecia, por parte do Brasil, termos mais enérgicos frente aos Estados Unidos, especialmente, da parte dos dois países maiores produtores de petróleo, Brasil e Venezuela.

Representam erros estratégicos fatais, disse Kalout, os choques geopolíticos entre Lula e Maduro, ao contrário do que se espera, para promover, com o entendimento entre ambos, para promover a unidade econômica latino-americana contra os Estados Unidos.

Bastou esse argumento de Kalout para William Waack tomar, abruptamente, a palavra e encerrar o programa que prometeu estender, passando em cima de cascas de banana.

Waack sentiu que era impossível elevar o nível da discussão sob pena de se dar mal frente ao patrão da CNN.

Pediu desculpas e encerrou o papo, deixando claro até que nível a emissora americana suportaria o debate aberto e franco em que os Estados Unidos aceitam conduzir as controvérsias francas que lhes são desfavoráveis.

Ficou evidente que a democracia, sob o imperialismo trumpista ou sob qualquer outro presidente, seja democrata ou republicano, está com o pavio muito curto e que Waack não tem coragem de enfrentar o desafio.

Nessa altura do debate com os especialistas em relações externas, Waack, que, ultimamente, demoniza o presidente Lula em todas as oportunidades, para puxar saco dos especuladores da Faria Lima, mostrou-se impaciente, porque não dispõe mais de argumentos convincentes, sequer para sustentar a veracidade do título do artigo de Joseph Nye, de que os Estados Unidos representam o “Soft Power”, isto é, poder da persuasão sobre o poder da coerção, sabendo que Tio Sam, historicamente, exerce o poder do porrete – big stick.

* Este é um artigo de opinião, de responsabilidade do autor, e não reflete a opinião do Brasil 247.

❗ Se você tem algum posicionamento a acrescentar nesta matéria ou alguma correção a fazer, entre em contato com [email protected].

✅ Receba as notícias do Brasil 247 e da TV 247 no Telegram do 247 e no canal do 247 no WhatsApp.

Rumo ao tri: Brasil 247 concorre ao Prêmio iBest 2025 e jornalistas da equipe também disputam categorias

Assine o 247, apoie por Pix, inscreva-se na TV 247, no canal Cortes 247 e assista:

Cortes 247

Carregando anúncios...
Carregando anúncios...