A paz no Oriente Médio começa com um juramento: escolher a humanidade, sempre
Que este conflito seja um despertar. Que as vozes da reconciliação – de poetas da paz a cidadãos comuns – se ergam em um coro que abafe o rugido da guerra
Tenho três concunhados persas, iranianos, cujas histórias de resiliência e cultura enriqueceram minha família. Já visitei Israel oito vezes, fascinado por sua história vibrante, e três de meus filhos viveram lá por um ano, forjando laços profundos. Sei o quanto é árduo manter a imparcialidade, quando a tentação de apoiar um lado em um conflito que destrói vidas e reduz cidades a ruínas é tão poderosa.
Mas escolho o equilíbrio: em uma guerra, não há vencedores, apenas perdas, e nenhum contendor é o “dono da razão”. A voz da paz, ainda rouca e gripada, é abafada pelo rugido da guerra, mas é ela que devemos amplificar. Na madrugada de 13 de junho de 2025, quando Israel e Irã mergulharam em um conflito devastador, esse grito por reconciliação tornou-se mais urgente do que nunca.
Na noite de 12 de junho, Israel lançou ataques aéreos contra usinas nucleares iranianas, incluindo Natanz e Isfahan, sob o pretexto de neutralizar a ameaça de armas atômicas. O primeiro-ministro Benjamin Netanyahu celebrou a operação, que destruiu centrífugas e eliminou 10 cientistas nucleares e 15 militares. Mas a ação, vendida como defesa, violou a soberania iraniana e normas internacionais, como alertou Rafael Grossi, da Agência Internacional de Energia Atômica, que classificou os ataques como “um risco inaceitável à segurança global”.
O Irã retaliou com fúria, disparando mais de 150 mísseis e drones contra alvos em Israel. Explosões rasgaram os céus de Tel Aviv e Haifa, enquanto sirenes empurravam civis para bunkers. A Guarda Revolucionária Iraniana perdeu seu comandante, Hossein Salami, e sete oficiais, alimentando promessas de vingança. O ministro Abbas Araghchi cancelou negociações nucleares, chamando os ataques de Israel de “selvageria”. Iniciado às vésperas de uma cúpula da ONU sobre paz no Oriente Médio, o conflito sepultou qualquer chance imediata de progresso diplomático, transformando esperanças em cinzas.
Chamas da discórdia iluminam brutal pesadelo
Até o fim de 14 de junho, o conflito deixou 35 mortes, segundo dados preliminares. Em Israel, cinco civis morreram, incluindo uma estudante de 21 anos em Tamra, atingida por estilhaços, e um avô em Haifa, soterrado nos escombros de sua casa. Cerca de 90 pessoas ficaram feridas, muitas em estado grave, enquanto usinas elétricas e portos sofreram danos severos, comprometendo o abastecimento em várias cidades.
No Irã, os ataques israelenses mataram 30 pessoas, entre 12 civis, 10 militares e oito cientistas. Um bombardeio a um depósito de petróleo em Teerã, na manhã de 14 de junho, matou cinco trabalhadores e desencadeou um incêndio que ameaça bairros residenciais. Danos em Natanz levantaram alertas sobre vazamentos radioativos, embora Teerã negue. Essas perdas, de ambos os lados, são mais que números – são histórias interrompidas, famílias destroçadas e um lembrete cruel de que a guerra não poupa os inocentes.
Este conflito é uma ferida aberta na alma da humanidade. Ataques a usinas nucleares, como Natanz, onde reatores foram danificados, geram temores de contaminação radioativa. Especialistas alertam que partículas liberadas podem envenenar solos e rios, condenando gerações a doenças e desolação.
A violência também sufoca crises humanitárias: em Gaza, palestinos temem ser esquecidos, enquanto no Líbano, aliados do Irã, como o Hezbollah, ameaçam abrir novas frentes, arriscando um incêndio regional.
A guerra perturba o equilíbrio global. Ataques a campos de gás iranianos e refinarias israelenses dispararam os preços do petróleo, golpeando economias frágeis. A duplicidade de líderes ocidentais, que aplaudem Israel enquanto condenam o Irã, escancara uma falência moral. Como disse Tariq Ramadan, “o silêncio do Ocidente é uma traição à justiça”. Essa seletividade corrói a confiança em instituições que deveriam proteger a humanidade, deixando o mundo à mercê de interesses mesquinhos.
A reconciliação não é um sonho ingênuo, mas uma urgência vital. Inspirados por Jean-Philippe Charleaux, que clama por diplomacia, e Simon Tisdall, que aponta o acordo nuclear de 2015 como um farol, devemos exigir ação.
A ONU precisa convocar uma cúpula emergencial para forjar um cessar-fogo e retomar negociações nucleares. Sanções contra atos de violência, como sugeriu Charleaux, podem frear a escalada e abrir espaço para o diálogo.
Um juramento pela humanidade
A sociedade civil tem um papel crucial. Movimentos pacifistas, como defendido por Ramadan, devem rejeitar narrativas que glorificam a destruição e pressionar por políticas que honrem a vida. Campanhas globais, boicotes culturais e marchas podem transformar a indignação em mudança.
Minhas visitas a Israel e os laços com minha família iraniana me ensinaram que, apesar das diferenças, o desejo por paz é universal. Esse anseio deve guiar nossas ações, unindo vozes de Tel Aviv a Teerã em um coro pela humanidade.
Minha experiência pessoal reforça a convicção de que tomar partido é uma armadilha. A guerra entre Israel e Irã é um espelho da nossa falha em colocar a humanidade acima do orgulho.
Cada míssil é um juramento quebrado, uma escolha de semear morte em vez de entendimento. Os civis, de Tel Aviv a Teerã, não são peças de um jogo – são corações que sonham e merecem amanheceres sem medo.
Com 35 vidas perdidas e um mundo à beira do caos, o custo desta loucura é claro. Riscos nucleares, colapsos humanitários e instabilidade global não são abstrações, mas ameaças reais.
A comunidade internacional, muitas vezes refém de interesses mesquinhos, deve encontrar coragem para mediar e desarmar. Meus filhos, que viveram em Israel, e meus concunhados iranianos me lembram que a paz é possível quando escolhemos ouvir em vez de destruir.
Que este conflito seja um despertar. Que as vozes da reconciliação – de poetas da paz a cidadãos comuns – se ergam em um coro que abafe o rugido da guerra. A paz no Oriente Médio, e em todos os cantos, começa com um juramento: escolher a humanidade, sempre. Não podemos deixar que a voz gripada da paz seja silenciada. É hora de gritar, com toda a força, por um mundo onde o diálogo vença a destruição. E que volte a ecoar as boas novas de que “a cada pensamento de guerra possa surgir um pensamento ainda mais forte de paz”.
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