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Paulo Henrique Arantes

Jornalista há quase quatro décadas, é autor de “Retratos da Destruição: Flashes dos Anos em que Jair Bolsonaro Tentou Acabar com o Brasil”. https://noticiariocomentado.com/

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A balela do fim da Cracolândia, bandeira do candidato Tarcísio

O governador aprofunda uma catástrofe social, higieniza com violência guetos de dependentes químicos no centro da cidade para desenhar seu cartão postal

Cracolândia (Foto: Rovena Rosa/Agência Brasil)

Tarcísio de Freitas e Ricardo Nunes não acabaram com a Cracolândia, porque não se resolve a complexa questão do tráfico-consumo de drogas mandando a polícia baixar o pau nos usuários e espalhando-os pela cidade. Já é farto o noticiário sobre mini-Cracolândias distribuídas por São Paulo, bem como os relatos sobre o tipo de abordagem que vem sendo praticado pelos policiais para dispersar as aglomerações.

É notório que a polícia não possui capacidade – talvez nem vontade – para prender traficantes - não os chefes - de modo a ferir de morte o crime organizado que abastece as Cracolândias grandes ou pequenas. O PCC é mais poderoso e articulado que as polícias civil e militar, seus membros são melhor remunerados. A polícia prende meia dúzia de pequenos traficantes por mês, o que não representa nada. Nem se fale dos policiais cooptados pelo tráfico, os quais garantem a intocabilidade de certas biqueiras.

Nunca houve um conjunto de ações coordenadas de saúde e segurança envolvendo a questão das Cracolândias. Todos os prefeitos e governadores recentes prometeram acabar com ela. João Doria, em determinado momento, afirmou de modo pomposo: “a Cracolândia acabou”. Ele fizera uma intervenção no então reduto e dispersara os usuários por uma semana.

O governador Tarcísio, candidato da mídia mainstream a presidente da República, de mãos dadas com o prefeito Nunes, aprofunda uma catástrofe social, higieniza com violência guetos de dependentes químicos no centro da cidade para desenhar seu cartão postal. Pouco lhe importa se essa população adoecida e vulnerável vai praticar seu vício em alguma quebrada da periferia.

Além de um projeto audacioso e complexo de saúde e apoio social para salvar os dependentes, é preciso desmontar as células do crime organizado que os escravizam. Claro, se a intenção for resolver de fato o problema.

São Paulo tem mais de 90 mil moradores de rua, segundo o Observatório Brasileiro de Políticas Públicas com a População em Situação de Rua, da Universidade Federal de Minas Gerais. Entre essa população encontram-se tanto o sujeito que empobreceu e ficou sem ter para onde ir quanto aquele que sofre de transtornos mentais e perdeu a família. E há os usuários de drogas. Não se pode adotar o mesmo procedimento para cada uma dessas pessoas, é necessária uma política social flexível para ajudar seres humanos com necessidades diferentes.

A droga segue o dinheiro, por isso não há muita droga na África e uma quantidade enorme nos Estados Unidos. A droga, em várias formas, começou a abundar há cerca de 50 anos na capital e no interior paulistas, onde o dinheiro se fez presente. Em São Paulo, como no mundo, quem tem mais dinheiro usa mais droga, só que o filhinho de papai dos Jardins não é incomodado pela polícia.

Se o leitor for a favelas ou regiões mais pobres da cidade de São Paulo, verá um consumo de droga muito grande, mas nesses locais a pessoa usuária participa da distribuição da droga, do crime organizado, como forma de sustentar o seu próprio consumo. Vira criminosa.

* Este é um artigo de opinião, de responsabilidade do autor, e não reflete a opinião do Brasil 247.

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