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Henrique Pizzolato

Ex-sindicalista bancário; ex-presidente da CUT Paraná; ex-diretor da Previ e do Banco do Brasil; militante de Direitos Humanos e membro da Rede Lawfare Nunca Mais

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A absolvição do ex-reitor da UFRJ e o lawfare contra as universidades públicas

Roberto Leher foi inocentado, mas seu caso revela a guerra para destruir a educação pública, ciência e tecnologias

Roberto Leher (Foto: Giuliana Miranda)

Na última semana, o ex-reitor da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ), Roberto Leher, foi absolvido da acusação de improbidade administrativa. A denúncia nascera de seu posicionamento contra o impeachment de Dilma Rousseff, em 2016, ano em que a Operação Lava Jato era já exaltada pela grande mídia empresarial.  

O crime de Leher? Defender a democracia em um espaço onde a liberdade de expressão deveria ser norma, não exceção. Tornou-se alvo de um sistema de justiça instrumentalizado, que perseguia, deslegitimava e eliminava quem se identificasse com os ideais da esquerda ou tivesse papel ativo na implementação de políticas de inclusão social. O processo contra ele não foi apenas injusto; foi um caso clássico de lawfare: uma guerra travada no terreno do direito, onde leis viram armas e decisões judiciais abusivas servem a um projeto maior de neutralização de inimigos políticos.

O império neoliberal, cujo coração bate nos Estados Unidos, opera com um objetivo elementar: concentrar poder econômico e político. Seu método? Aniquilar competidores, submeter nações inteiras, impedir a soberania dos países. No jogo da dominação no tabuleiro geopolítico, um país se dobra quando seus pilares desmoronam. E entre esses pilares estão a energia e o conhecimento — base da sustentação do desenvolvimento. 

Deslegitimar Roberto Leher não era um fim, mas um meio. O alvo real era a universidade pública. O espaço onde a ciência floresce, onde pesquisas se traduzem em tecnologias, onde se inventam soluções para um país menos dependente. Foi em instituições como a UFRJ que cientistas desenvolveram as técnicas que permitiram à Petrobras extrair petróleo no mar profundo, na camada do pré-sal – um feito que nenhum outro país dominava.  

O ataque à universidade seguiu o roteiro clássico da Lava Jato, que se vendeu como cruzada moral, mas operou em benefício dos interesses econômicos do poderoso vizinho do norte. Procuradores e juízes voaram aos Estados Unidos sob o pretexto de cooperação no combate à corrupção, sem passar pelos canais oficiais do Estado brasileiro. O resultado? Informações estratégicas de gigantes nacionais, como Petrobras, Odebrecht, OAS, JBS, foram postas sobre a mesa para serem devoradas pela águia do Norte, predador símbolo daquele país.

As universidades públicas não escaparam do macabro ataque predador. Afinal lawfare é guerra para eliminar obstáculos que se interpõem no caminho do invasor. Em um único ano, entre dezembro de 2016 e dezembro de 2017, sete universidades federais foram alvos de operações policiais. O caso mais célebre foi o de Luiz Carlos Cancellier, reitor da Universidade Federal de Santa Catarina (UFSC), alvo de acusações violentas que, seis anos depois, revelaram-se vazias perante o Tribunal de Contas da União (TCU). Nenhuma irregularidade existiu, mas a humilhação a que foi exposto pela mídia, pela Polícia Federal, pelo Ministério Público foi insuportável. Cancellier foi empurrado para a morte.

O ataque à UFSC, no jogo da dominação, tem sentido, na lógica do invasor predador. Esta Universidade tem renome internacional por sua excelência em engenharia mecânica e forte atuação em pesquisa e inovação tecnológica no setor aeroespacial que contribuíram com a Embraer e outras empresas do ramo.

A caçada se estendeu à Universidade Federal do Paraná (UFPR), à de Juiz de Fora (UFJF), à do Rio Grande do Sul (UFRGS), à de Minas Gerais (UFMG), à do Triângulo Mineiro (UFTM) e, claro, à UFRJ. Professores e reitores foram alvos de operações midiáticas. Delegacias substituíram salas de aula. Policias armados tomaram corredores onde antes se respirava ciência. Mandados de busca e apreensão, conduções coercitivas, prisões preventivas sem fundamento: um espetáculo de violência e destruição de reputações.  

O propósito? Aniquilar carreiras de professores, pesquisadores, cientistas, desacreditar instituições, minar a confiança da sociedade na universidade pública. Para quê? Para pavimentar o caminho da privatização, para liquidar políticas educacionais que reduzem desigualdades e geram conhecimento sem passar pelo controle de magnatas que enxergam lucro, não povo.  

Você que lê este texto já tem a resposta. A quem interessa o ataque às universidades públicas?

* Este é um artigo de opinião, de responsabilidade do autor, e não reflete a opinião do Brasil 247.

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