O silêncio cúmplice do mundo e a urgência da voz brasileira diante da agressão ao Irã
Os Estados Unidos e seu instrumento regional, Israel, agem como se estivessem acima de qualquer ordenamento jurídico internacional
Ao iniciar mais uma guerra, com o bombardeio unilateral contra o Irã, com alegações comprovadamente falsas de que Teerã estaria desenvolvendo armas nucleares, Israel escancara um padrão perverso: o uso do conflito como instrumento de dominação interna e coação geopolítica.
A trajetória do primeiro-ministro israelense, Benjamin Netanyahu, revela uma estratégia recorrente: provocar crises para polarizar sociedades, atrair apoio externo de ultradireita e manter-se no poder. Foi essa mesma lógica que conduziu ao genocídio em Gaza – onde crianças, mulheres e trabalhadores humanitários são alvos sistemáticos – e a intervenções fracassadas no Líbano e na Síria, que não conseguiram ocultar derrotas estratégicas.
Enquanto isso, o mundo assiste em silêncio ao suplício do Irã. A mesma passividade que normalizou o massacre em Gaza agora encobre a escalada contra Teerã, que se tornou ainda mais grave após o ataque do governo dos Estados Unidos, liderado por Donald Trump, às instalações nucleares do Irã. Essa cumplicidade diante da violência é uma ferida moral aberta: não se trata apenas de mais um conflito regional, mas por meio dele de um ataque frontal aos fundamentos da humanidade.
Os Estados Unidos e seu instrumento regional, Israel, agem como se estivessem acima de qualquer ordenamento jurídico internacional. Assassinatos de líderes, agressões à soberania de outros Estados e violações sistemáticas das convenções de guerra são cometidos impunemente, sob o manto da "lei do mais forte". Relatórios ambíguos de agências internacionais, não reconhecidas, aliás, por Israel nem EUA, são distorcidos para legitimar ações unilaterais, enquanto Israel mantém intocado e não fiscalizado seu próprio arsenal nuclear.
Nesse cenário, o papel do Brasil torna-se crucial. A firmeza do governo brasileiro, sob a liderança do presidente Luiz Inácio Lula da Silva, ao denunciar o genocídio em Gaza – ao utilizar repetidas vezes a palavra que o Ocidente teme pronunciar – e ao exigir negociações de paz concretas foi um farol em tempos de obscurantismo. Mas é preciso ir além. O Brasil deve liderar a ruptura do silêncio global, articulando uma frente de Estados comprometidos com a contenção dessa escalada de violência promovida por Washington e Tel Aviv.
A sociedade brasileira e comunidade internacional não podem permanecer reféns de uma dupla tirania: a do poder militar sem freios e a da omissão covarde. A retórica incendiária de figuras como Donald Trump, ameaçando “promover o inferno” no Irã, revela um projeto político deliberado: manter, por meio da demonização do Irã, toda a comunidade internacional de países sob chantagem permanente. Espera-se que a voz do presidente Lula, somada à de outras lideranças do Sul Global, imponha a sensatez necessária para deter essa espiral de barbárie.
A história julgará não apenas os perpetradores da violência, mas também os que optaram pelo silêncio. O momento exige mais que discursos. Exige ação, em nome de uma régua moral tão necessária. Uma ação concreta, multilateral e urgente, para resgatar o direito internacional da ruína e proteger populações indefesas da sanha de governos que transformaram a sujeição pela guerra em projeto político.
