A ditadura militar nos dias de hoje
Os fantasmas do autoritarismo ainda rondam o Brasil e resistem às conquistas democráticas
Não por acaso, os dois filmes brasileiros contemporâneos mais importantes transcorrem durante a ditadura militar. Saímos da ditadura depois de uma dura e longa luta de resistência popular, mas ela parece não querer ir embora de vez.
Tanto “Ainda estamos aqui” quanto “O agente secreto” têm como cenário a mais longa das ditaduras militares na América Latina. Esse é o Brasil que corre o mundo com a exibição desses filmes em quase 100 países, alcançando grande sucesso e recebendo prêmios para os filmes e os atores.
Como ocorre sempre que o país vai bem politicamente, o cinema brasileiro também prospera. Foi assim durante o governo de Jango, com o Cinema Novo, e ocorre agora.
Os personagens do 8/1 são apenas e tão somente figuras daquele passado terrível, que insistem em atualizar os métodos e os objetivos antidemocráticos. A polarização entre ditadura e democracia segue comandando a história brasileira contemporânea.
O país viveu, após a redemocratização de 1945, um período democrático de quase duas décadas — dessa data até o golpe militar de 1964 —, que manteve o poder no Brasil durante 21 anos, mais do que havíamos vivido em democracia. De 1945 a 1985, foram 19 anos de democracia e 21 de ditadura.
A economia, por sua vez, viveu um longo ciclo expansivo no pós-guerra, até o golpe de 1964. A ditadura militar, instaurada no Brasil ainda durante o período internacional de expansão econômica, conseguiu alguns anos de crescimento. Ao contrário das outras ditaduras militares do continente — como as da Argentina, do Uruguai e do Chile —, que coincidiram com períodos de recessão econômica.
A ditadura propagou um suposto “milagre econômico”, cujo segredo estava na superexploração do trabalho — uma exploração mais intensa do que a média histórica das taxas de exploração.
Essa característica marcou todo o período da ditadura militar, que as ações de 8/1 buscavam restabelecer — não apenas o regime ditatorial, mas também a superexploração do trabalho, indissoluvelmente vinculada a ele.
A direita não gosta do regime atual no Brasil, não apenas porque rejeita a democracia, mas também porque não aceita os direitos sociais, a melhoria das condições de vida da população e a distribuição de renda, que reduziram os ganhos dos super-ricos. Por isso, seus representantes no Congresso bloqueiam o projeto do governo de taxação das grandes fortunas. Defendem os super-ricos, seus financiadores e aqueles que representam no Parlamento.
* Este é um artigo de opinião, de responsabilidade do autor, e não reflete a opinião do Brasil 247.



